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Fato conhecido como Massacre dos Ciganos completa 100 anos em Esperantina

jornalesp 508Completa no próximo dia 11 de novembro, desse ano, o centenário de um dos maiores acontecimentos da história do município de Esperantina, o “Massacre dos Ciganos”. hpim5582O fato aconteceu quando a cidade ainda se chamava Retiro da Boa Esperança, e marcou o fim de uma série de saques realizados por Ciganos, vindos do estado do Ceará, na região norte do Piauí.

Acompanhe abaixo, toda a história do massacre, segundo o livro “Aspectos de Esperantina, do escritor Valdemir Miranda:

As diferenças tradicionais e insubordinação levou tribos nômades a cometer muitas irregularidades por onde passavam. Vindo do Ceará, com destino ao Maranhão os Ciganos, no ano de 1913, encontravam-se no nosso estado, em Peixe (Nossa Senhora dos Remédios), onde invadiram a loja do senhor Antonio do Rego Castelo  Branco. O chefe do grupo, Benjamim da Rocha Medrado, dirigiu-se ao senhor  Antonio do Rego, pedindo cachaça e vinho. O senhor  Antonio do Rego serviu aos bandoleiros o que eles pediram. Depois de servidos, o chefe do bando sentou-se em uma cadeira que estava próxima ao balcão, sacou da bota enorme faca e colocou-a sobre Antonio do Rego, que se achava debruçado sobre o balcão, pelo lado de dentro. Tirando a faca, aponta para um dos companheiros e diz:

“Olha, fulano, um espinho, por menor que seja, entrando em nosso corpo nos incomoda; avalia esta, toda metida no corpo do diabo’!

Dito isso, pediu um vidro de óleo, abriu e passou no bigode e cabelo e perguntou o preço. Respondeu o senhor Antonio do Rego que custava 2$600. Replica o cigano:

“Só vale dez tostões e é o que pago”.

Mandou pegar café e disse a mesma coisa sobre o preço. Pegou os copos que foram postos para servir o vinho e atirou-os sobre a prateleira, fazendo descer copos que estavam embrulhados, expostos à venda. Disse injúria e afirmou:

“Seu Antonio do Rego, o senhor merece é uma visita do Antonio Silvino”! Retirou-se com zombarias e risadas.

Depois do ataque, o senhor  Antonio do Rego seguiu para Barras, de onde telegrafou ao governador e secretário de polícia pedindo providências.

O governador Miguel Rosa organizou com o secretário de polícia uma tropa de volantes comandada pelo 2º tenente Manoel da Cruz Oliveira, que partiu de Teresina na manhã de cinco de novembro num vapor com destino a Miguel Alves. Chegaram ali no dia sete e encontraram o Cigano por alcunha de “Seu homem”, com seu pequeno bando. O senhor Manoel da Cruz intimou-a retirar-se do nosso território, em virtude de ordem, por escrito, do governo do Estado. Seguiu o 2º tenente para Marruás onde teve notícias dos Ciganos a umas cinco léguas, no lugar Campo Largo. Estes obedeciam ao líder Liberato Guerreiro, que havia jurado, na casa do coronel Marcelino Rego, tirar a vida do capitão Antonio Rego.

Chegando a força oficial a Campo Largo de madrugada, o tenente Manoel da Cruz postou a força policial deitada em linha de atiradores, a uns 60 metros do acampamento dos Ciganos. Mandou ter com eles o guia de nome Abel intimar Liberato a comparecer à sua presença. Ordenado a sair de nosso território, respondeu, arrogantemente, que não se retiraria, nem mesmo se fosse preciso lutar. O tenente Oliveira prendeu Liberato Guerreiro, entregando-o ao 1º sargento Anísio e ao cabo Leandro. Em seguida ordenou que a força avançasse acelerado rumo à casa ocupada pelos Ciganos sendo recebidos trinta metros adiante com alguns tiros. Vendo que seria necessário reagir energicamente, ordenou que deitasse a força e desse uma descarga na mesma direção de onde partiram os tiros. Protegidos pela noite, os Ciganos fugiram. Chegando ao local em que antes se achavam os fugitivos, encontraram uma mulher morta por bala da força e, pelos sinais de sangue encontrados, é possível que tenha havido  feridos. O dono da casa, um pobre lavrador que os Ciganos obrigaram a dar-lhes pousada e alimento foi ferido no ventre por bala de rifle, pois deixara um orifício de mais de cinco centímetros na saída. Por ocasião do tiroteio o Cigano Liberato Guerreiro tentou matar o 1º sargento Anísio com um punhal, travou-se então uma luta corporal que acabou com a morte do Cigano. O civil, dono da casa veio a morrer.

Regressando a Marruás, encontraram no caminho um pequeno grupo de nove Ciganos que não resistiram às ordens e se retiram do nosso território. Em poder deles não encontraram nenhuma arma. No Marruás, deu descanso à tropa e foi até ao lugar Tanquinho, onde contava achar um grupo de Cigano, o que não era verdade. Dali seguiu novamente a Marruás e a Peixe onde recebeu um guia de confiança e dirigiu-se ao Retiro da Boa Esperança, percorrendo diversos lugares e pousando no lugar Beiru. Ai teve notícias do bando chefiado por Benjamim da Rocha Medrado que pernoitara a uma légua de distância, no lugar Engano. Resolveu o tenente Oliveira seguir com a tropa somente pela manhã, a fim de evitar algum incidente como se deu em Campo Largo. Chegando lá, o bando já havia levantado acampamento. Continuou a tropa a marchar para o Retiro, alcançando-os a duas léguas do povoado. Tentou dialogar, sendo respondido a bala, que só não teve efeito devido à distância de uns quatrocentos metros que se encontraram andando a pé e a cavalo. A força policial acompanhou-os na entrada do povoado na manhã do dia 11 de novembro daquele ano de 1913. Ao entrar no Retiro da Boa Esperança, houve o choque do bando, cerca de duzentos Ciganos com a força policial. A força policial deitada respondeu ao fogo. Os Ciganos atiravam de dentro do povoado.

Encurralados, refugiaram-se na casa do senhor  Manoel Lages, dizendo-se perseguidos e que eram homens de bem. A força policial procurou logo cercar a casa, auxiliado pelo proprietário, que um dos Ciganos quisera, segundo ela, matar a pistola, quando procurava tirar o filho dos braços de uma Cigana. O cabo Leandro foi mandado com dez praças para intimá-los a saírem e renderem-se entregando as armas. Benjamim Medrado, o chefe do bando, respondeu que não se sujeitava a intimações e que o destino dele era aquele e não entregava as armas.

A casa do coronel Manoel Lages foi invadida, com seu auxílio, pela força policial, tendo os Ciganos fugido pelos fundos, refugiaram-se nas matas próximas, de onde fizeram fogo a força policial. O tenente Manoel da Cruz Oliveira também ordenara abrir fogo sobre eles. Morreram no tiroteio nove Ciganos, inclusive o chefe Benjamim Medrado. Foram baleados um menino cigano, duas ciganas e um homem do povo. Dos fugitivos, muitos voltaram para o Ceará, outros atravessaram o Parnaíba para o Maranhão.

Seus bens foram confiscados, muitos deles devolvidos a seus donos. As mulheres Ciganas foram amparadas, recebendo transporte, alimento e dinheiro.

Inquérito policial foi instaurado para apurar os crimes, depuseram muitas testemunhas. Os Ciganos mortos não tiveram nenhum tratamento, sendo enterrados no cemitério velho, em vala comum.

O segundo tenente Manoel da Cruz Oliveira, permaneceu no Retiro da Boa Esperança por mais três dias, depois voltou a Teresina sendo recebido como herói. Mais tarde, após apuração do massacre foi afastado da força policial a bem do serviço público, tendo sido seus atos julgados arbitrários.

Tido como um local de milagres e de orações, o mausoléu dos Ciganinhos situado na localidade Piquizeiro da Areia,  é bastante frequentado por populares durante todo o ano.

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Lamentavelmente o local atualmente se encontra  praticamente abandonado por parte das autoridades do nosso município.

 

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