ESPERANTINA: o pior pode estar por vir

Os esperantinenses de boa memória, especialmente os que habitam o município, possivelmente ainda têm bem vivo na mente a novela política do final do mandato calamitoso do prefeito Felipe Santolia.

Para lembrar, mesmo depois de perder as eleições de 2008, e antes de repassar o cargo ao prefeito eleito, ele foi forçado deixar a prefeitura, assumindo o cargo o Dr. Joe (vice-prefeito), logo em seguida ele retornou, mas teve as contas bloqueadas pela justiça. E em seguida o prefeito eleito assumiu. Mas a novela continuou!

Depois de uma campanha eleitoral local reveladora do descumprimento da legislação eleitoral, tanto por parte da oposição quanto da situação, à época, o grupo articulado por Francisco Antonio ganhou as eleições com larga margem de votos. Mas a briga continuou nos tribunais. Começou, então, uma longa batalha judicial entre o candidato perdedor, insatisfeito e o vitorioso.

Na primeira instância judicial o prefeito eleito ganhou. Porém, após dois anos de governo tentando acertar na condução da gestão, ele e sua vice-prefeita (Soraia Aguiar) tiveram os mandatos casados por decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Ao prefeito ainda foi imposto uma multa e tornado inelegível por oito anos. O segundo colocado, Felipe Santolia, teve os votos anulados e os direitos políticos também casados no TRE. Por isto foi empossado no cargo de prefeito o então presidente da câmara, o vereador Janio Aguiar. Assim, em menos de três anos a terra da boa esperança teve quatro prefeitos: Felipe, Joe, Chico Antônio e Jânio. E terá o quinto prefeito após a decisão final do TSE.

O que revela essa situação de instabilidade institucional? A resposta mais provável a esta questão é a de que o município de Esperantina vive uma grave crise política geradora de insegurança institucional. Desde as eleições de 2004, em que o candidato do PT, Olavo Rebelo, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, desistiu de concorrer à vaga de prefeito na véspera das eleições para apoiar o candidato da situação, Zé Ivaldo, e mesmo assim, naquela época, ganhou o Santolia, que a crise se instalou no município. O (dês) governo de Santolia ficou conhecido como uma tragédia para Esperantina. No final do seu mandato a prefeitura estava quase inviabilizada, com problemas de inadimplência no INSS, empréstimo em nome de funcionários (sem o conhecimento de muitos deles), serviços de saúde, de educação, de assistencial social praticamente sem funcionamento e a cidade em péssimas condições de conservação. Em fim, aquele governo, para muitos esperantinenses, foi um mau exemplo de gestão da coisa pública.

Quando o Francisco Antonio assumiu a prefeitura, em janeiro de 2009, o município estava impedido de receber recursos de projetos e convênios com o governo federal, aliás, continua até hoje – de tão grave que foi a gestão do prefeito anterior –, e em dois anos ele não conseguiu resolver totalmente a inadimplência. Daí uma das especulações do mal praticado pelo governo de Santolia à população esperantinense. Mas, por incrível que pareça, o pior ainda pode estar por vir. Pois circula na mídia da capital a noticia de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anulou a decisão do TRE, em relação à cassação dos direitos políticos de Santolia e o tornou elegível. O que isso significa? Significa que ele poderá vir a ser o prefeito de Esperantina ainda neste mandato. Como isto é possível? Se o TSE mantiver a decisão do TRE de cassação do mandato do Chico Antonio, e suspender em definitivo as eleições suplementares, quem assumirá a prefeitura será o segundo colocado das eleições de 2008, nesse caso, o Felipe Santolia. Porém, é bom lembrarmos que ele responde por vários processos e também teve as contas, de parte do seu mandato, reprovadas, o que poderá dificultar essa proeza.

Concluindo: a política é como um jogo de xadrez. Se o jogador não souber mexer bem as peças, consequentemente sofrerá xeque-mate. Foi isto o que aconteceu com o Prefeito Francisco Antônio: revelou-se um jogador político de pouca habilidade, infelizmente. Mostrou-se, em parte do seu governo, um político de ações mais tradicionais que progressistas; mais dado aos aliados que aos seus companheiros; e mais um chefe político de pouca humildade que um político democrata. Infelizmente isto contribuiu para continuação dessa novela política. Se o Santolia, nesse episódio, voltar à prefeitura será, em parte, pelos erros e inoperância do PT de Esperantina. Mas não faltaram advertências. O PT teve oportunidade de chegar ao poder local, e chegou, mas não soube se manter no poder. Provavelmente outra oportunidade não reaparecerá tão rapidamente. Esperamos para vê os próximos capítulos dessa triste novela.

Francisco Mesquita

Esperantinense, Professor atualmente residindo em Teresina.