Saúde

Renúncias, desafios e gratidão de médicos recém-formados no Piauí

A pandemia do novo coronavírus surpreendeu o mundo em março, transformando rotinas, pessoas e vidas como a de estudantes de Medicina no Piauí que se tornaram médicos em meio à crise causada pela Covid-19.

No estado, dezenas de universitários de instituições públicas e privadas tiveram as formaturas antecipadas para se unirem na guerra invisível contra o vírus que já matou mais de 315 mil pessoas em todo o mundo.
Aniceto Lopes é um dos médicos recém-formados pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e teve a formatura antecipada no inicio da pandemia no Brasil.
“O isolamento social tinha sido implantado há menos de sete dias. Foi um turbilhão de informações conflitantes ao mesmo tempo. Mas nessa história toda, o mais complicado sempre foi lidar com a incerteza de como tudo ia se desenrolar no nosso país e no nosso estado. O meu sentimento nunca foi propriamente de medo, mas de insegurança e angústia, por estar lidando com algo novo. De toda forma, posso garantir que a opção de não trabalhar pra não me expor, nunca passou pela minha cabeça”, disse o médico.

Ao Cidadeverde.com, Aniceto Lopes relata que, assim como era na rotina acadêmica, renúncias fazem parte do dia a dia de um médico. Para se ter uma ideia, das 24 horas de um dia, ele chegar a trabalhar até 14 horas, dependendo dos plantões, se revezando no atendimento em um Posto de Saúde da Família na cidade de Miguel Alves, no interior do Piauí, e como médico plantonista de urgência em hospitais das redes privada e pública.
O jovem médico conta que, felizmente, não vivenciou a morte de nenhum paciente em decorrência da Covid-19 e questionado sobre salvar vidas, ele diz:
“Quanto a salvar alguém, isso nunca deve ser atribuído a um único profissional. Mas sim, a toda a equipe multiprofissional que atende esses pacientes e que dá o seu melhor na busca de um desfecho positivo”, disse Aniceto Lopes.
Ele conta que cursar Medicina era um sonho desde a infância e que, apesar dos riscos à propria saúde potencializados devido à pandemia, o sentimento é de gratidão.
“Gratidão por exercer a profissão que escolhi pra minha vida em um momento tão nobre e ser parte ativa no enfrentamento à maior crise de saúde pública. Além disso, guardo junto a todos os medos e inseguranças, o sentimento de esperança de que dias melhores estão por vir e a confiança de que no tempo mais breve possível poderemos voltar a nossa rotina normal”, disse o médico.
Vinícius Peixoto, 23 anos, teve a conclusão do curso antecipada em quatro meses, se formou no início de maio e, uma semana depois, já estava em seu primeiro plantão como médico em um hospital municipal no interior do Maranhão. Ele é formado pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), instituição criada a partir do desmembramento da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Parnaíba.
O jovem médico também compartilha do amor pela Medicina e diz que “não se veria em outro lugar que não fosse na linha de frente”.
“É a realização de um sonho, apesar de toda a pandemia. Tem sido uma realização atender e até carimbar, sempre me preparando para o pior para tentar fazer o melhor para todo mundo que eu atenda. Tem sido muito prazeroso, apesar da aflição, preocupação, pelos riscos que corremos, mas faz parte, é inerente á profissão”, disse Peixoto.
Ele diz ainda que, independente da situação de pandemia, o médico tem que ter empatia e fomentar o cuidado pelo próximo.
“Médico, independente de qualquer tempo, qualquer hora, com ou sem pandemia, a Medicina é baseada em evidências. Não podemos ficar em achismos, remédios milagrosos. É o ser humano que está em jogo, tanto você próprio como a pessoa que está do outro lado. Às vezes não tem indicação remédio, internação ou outro procedimento, tem apenas um outro ser humano na sua frente que busca um cuidado, atenção ou simplesmente uma informação”, disse o médico.
Vinícius Peixoto optou por exercer a Medicina no Maranhão e, entre as renúncias que fez pela profissão, abdicou de morar com a mãe.
“Foi uma decisão muito difícil sair do conforto da sua casa, do contato com sua mãe e se isolar por completo é muito difícil”, desabafa.
Logo no primeiro plantão, Vinícius Peixoto se deparou com vários casos de pacientes com síndromes gripais e até mesmo confirmados da Covid-19 e reforça que o momento é de pensar na coletividade.
“Quer você acredite ou não, a pandemia é uma realidade. Nesse momento, o mais importante do que pensar em si é ter um olhar para a coletividade. Que todas as pessoas que não acreditam, que falam na recuperação econômica, de pessoas passando fome, olhem para essa pandemia também pela coletividade , pela questão de saúde. Não usem máscaras porque vocês acreditam, mas porque as outras pessoas acreditam, porque as outras pessoas vão estar em risco por você ,simplesmente, não usar uma máscara que não vai fazer nenhum mal”, disse Peixoto.

O jovem médico também faz um apelo para que as pessoas evitem aglomeração e reforça que o isolamento social é a medida mais eficaz contra a Coviud-19.

“Por favor, se isolem, evitem aglomeração. Essa é a medida mais eficaz e que pode ajudar nesse combate. Infelizmente, hoje, a gente não conta com nenhum tratamento que possa mudar a história da doenças. Do isolamento, a gente tem dados firmes que isso ajuda. Basta comparar no mundo quem está bem: Alemanha, Coreia do Sul, países que desde o começo encararam a quarentena precoce, o isolamento horizontal, que fizeram testagem em massa. Faça sua parte. Sei que é difícil, até mesmo quando não acredita, mas é a realidade. A gente não chegou nem perto do que eu acredito que vai ser o pico. Enquanto isso, faça seu sacrifício pessoal em prol da sociedade, mesmo que não acredite”, conclui o jovem médico concluindo que a população, de todos os lugares, só devem procurar o hospital em caso de urgência.
Cidade Verde

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo