As investigações em torno da morte de Fernanda Lages Veras, desde a Polícia civil até os dias de hoje quando estão sob a responsabilidade da Polícia Federal, constataram que havia grupos distintos de garotas que costumavam frequentar festinhas em sitios pertencentes a pessoas bem situadas financeiramente e afeitas a descontrações mais privadas.
Eram pelo menos quatro grupos e cada um deles tinha uma moça com ascendência sobre as demais. No dia 15 de junho de 2011, quando foi a festa de aniversário de um advogado num sitio na região da Socopo organizada por Nayrinha, Fernanda não a conhecia e nunca tinha visto o aniversariante. A jovem foi levada por uma amiga de nome Ydaiana. Mais tarde o aniversariante se tornaria seu amigo e seria testemunha de um fato no mínimo curioso: Fernanda usava pelo menos dois outros chips na carteira e chegou a utilizar um deles para fazer uma ligação, ajustando-o em um aparelho que não lhe pertencia, desprezando o seu pessoal.
Esse fato foi descoberto ainda na fase investigativa da Polícia Civil e aprofundado na esfera da Polícia Federal. O sítio foi emprestado por um colega do advogado aniversariante (os nomes não são publicados porque nenhum dos dois é considerado suspeito) que entregou a Nayrinha a tarefa de organizar a festa, realizada com um dia de antecedência da data comemorativa. Foi neste dia, fazendo parte de um grupo distinto de garotas, que Fernanda conheceu Nayra Veloso, aproximando-se dela de maneira muito rápida.
Vários chips
Nesse dia o aniversariante disse à polícia que sequer viu Fernanda no sitio. No outro dia, porém, amigos que comentaram a festa, fizeram questão de destacar a beleza da garota, que muitos nunca tinham visto e naquele momento demonstravam um interesse muito grande de conhecê-la.
No dia 4 de julho, o advogado aniversariante finalmente conheceu Fernanda, num bar do bairro Morada Nova, levado por Nayra Veloso, que estava aniversariando. Ele já havia presenteado Nayra com um celular e presenciou quando a estudante de direito abriu a carteira e deixou à mostra “pelo menos dois chips”. Ela retirou um deles, pegou o telefone de Nayra e fez uma ligação.
Aproximação
A essas alturas Fernanda Lages já se integrara ao grupo mais restrito de Nayra Veloso e o advogado voltou a vê-la no dia 19 de agosto, em nova festa no sítio de seu colega na estrada da Socopo. Desta vez ele estava sozinho e Fernanda na companhia de Nayra, Maria Teresa e Melina. Do sítio foram para o “Diploma Bar”, localizado na avenida Centenário, no bairro Aeroporto, quase em frente ao prédio que foi sede durante muito tempo do extinto jornal O Estado, levado à bancarrota pela viúva do jornalista Helder Feitosa, Teresinha Cavalcante.
Os dois só sairam do Diploma às 3h15min e ficaram juntos até a metade da manhã. Depois desse dia ele não esteve mais pessoalmente com Fernanda. Lembra que no dia 21 de agosto recebeu uma mensagem da garota. Na véspera de sua morte, ele enviou-lhe uma mensagem dizendo que só tinha visto a dela naquele momento e perguntava quando se encontrariam novamente. O advogado assegurou que das vezes que ligou ou mandou mensagem para Fernanda o fez para um número da Claro.
Os levantamentos sobre as festas em sitios que Fernanda frequentou deixam claro a existência de vários grupos de garotas na “periferia dos fatos” cujas líderes tinham fortes ligações com seus mentores, também distintos. Sempre que algum desses mentores queria fazer uma festa, chamava a sua organizadora de confiança, que se encarregava, quase sempre, de conseguir um sitio emprestado, evitando a propriedade do interessado.
O advogado que se tornou íntimo de Fernanda foi um que usou sitio emprestado; outro foi um misto de gestor/imobiliário que promoveu um encontro ampliado numa chácara à beira do rio Parnaíba, organizada por uma de suas corretoras que também conseguiu o espaço emprestado de um amigo fornecedor do seu chefe.
Outra festinha foi realizada no Todos os Santos e a organizadora recorreu ao espaço carinhosamente cultivado por um auxiliar do seu mentor.
Sem benefícios
Ao contrário do que se tentou espalhar, tudo faz crer que Fernanda aceitava a companhia dessas amigas bem relacionadas com tipos abastados e dados a utilizar o poder como instrumento de conquistas amorosas, porque adorava se divertir em festas, badalar, tirar fotografias, sem se incomodar que alguém estivesse tirando algum proveito da sua cintilante presença.
Fernanda Lages, 19 anos, morena, afável e dada a fazer novas amizades sem discriminar ou investigar a origem de quem lhe dirigia um sorriso, começou a brilhar em salões geralmente muito observados de Teresina. Sua presença resplandecia e provocava os comentários masculinos de admiração. Por vezes até obsessivos.
Por Feitosa Costa