Promotor que investiga tragédia em barragem do Piauí está sendo ameaçado
O promotor do município de Cocal da Estação, Maurício Gomes de Souza, encaminhou ofício ao Conselho Nacional do Ministério Público, à Procuradoria da República, à Polícia Federal e ao Procurador Geral de Justiça do Piauí, pedindo apoio e informando que está havendo ameaças veladas a ele e intenções de prejudicar o trabalho de investigação para apurar responsabilidades pelo rompimento da barragem Algodões I.
A Polícia Federal está investigando os fatos. O secretário de Segurança Pública, Robert Rios Magalhães, disse que o promotor está reagindo a uma denúncia feita contra ele na Corregedoria do Ministério Público.
“Nossa intenção é apurar os fatos e responsabilizar criminalmente a quem de direito. A partir de amanhã, vou pessoalmente em cada comunidade verificar in loco a situação e se houve enterro sem a comunicação às autoridades. Já conversamos com o coronel Alexandre Lucas, que está no comando da Defesa Civil, para disponibilizar um helicóptero para fazermos isso, porque só tem acesso pelo ar”, comentou o promotor.
Ele disse que tomou conhecimento, por terceiros, que poderia aparecer com “a cara quebrada ou levar uma surra” por conta da forma como estava conduzindo as investigações. Os comentários teriam partido do secretário estadual de Segurança Pública do Piauí, delegado Robert Rios Magalhães, quando estava no aeroporto improvisado em Cocal.
“Essa história é em tese, não nos disseram nada pessoalmente. Eu até admiro o trabalho do secretário. Mas encaminhamos os ofícios para estas instituições de forma que nos dêem apoio para conduzir a investigação. Estamos numa sala dois por dois e eu sou o único funcionário do Ministério Público. Aqui, nós temos que fazer tudo sozinhos autuo, registro, arquivo, faço oficio, encaminho, etc.”, emendou Maurício Gomes.
Ele disse que está apenas exercendo as suas atividades ministeriais, mas acha que está incomodando ou perturbando com a apuração. “Não acredito muito em ameaça velada. O poder realmente não gosta de ser investigado, fiscalizado, mas estamos fazendo o nosso trabalho. Não pode ser absoluto. Então, estamos pedindo a estas instituições em tudo o que puderem nos ajudar. Nossa função é investigar e colher provas, doa a quem doer”, garantiu o promotor.
Maurício Gomes disse que precisa de servidores, de policiais se puder, até de selos para enviar cartas. “Não vamos nos inibir com isso. Estou agindo em nome do Ministério Público e estamos vulneráveis, não temos estrutura. A PF investigando dá mais robustez. Estivemos com o delegado Eduardo Ferreira, da Polícia Civil, que nos garantiu apurar com toda a responsabilidade. Existem quatro instituições independentes apurando o mesmo fato”, comentou.
Robert Rios diz que nunca falou com promotor
O secretário de Segurança Pública do Piauí, Robert Rios, declarou que nunca manteve nenhum contato com o promotor Maurício Gomes. “Encaminhamos uma representação contra ele à Corregedoria do Ministério Público. Queremos que o promotor diga onde tem cemitério clandestino e quantos corpos tem. Acho que esta é uma reação de defesa dele”, comentou o secretário.
Robert Rios disse que considera louvável a atitude do promotor em investigar e buscar os fatos. É o que se espera do Ministério Público, mas Não dizer que tem cemitério clandestino e mortos a mais do que foi informado. As policiais estão no local e todo mundo que foi encontrado foi periciado, até os corpos em estado de putrefação. Todos tem laudo. Agora, o promotor é que vai ter que dizer onde estão estes corpos a mais”, emendou.
O secretário alegou que o momento é de socorrer as vitimas, de atender as famílias, de buscar os perdidos e não de procurar culpados. “Isso pode ficar para depois. Ele tem todo o direito de investigar. Quanto aos ofícios, considerou um papel inútil. Lá tem polícia civil, polícia militar, polícia federal e exército. Tem toda a proteção que ele precisar”, assinalou Robert Rios.
Fonte: Diário do Povo – PI