O imbróglio de uma reeleição inassimilável

O surpreendente incêndio político causado pela briga em torno da presidência da Assembleia Legislativa é um indicativo consistente do quanto é, digamos, de difícil assimilação, do ponto de vista da democracia, a permanência de Themístocles Filho (PMDB) no cargo em disputa. Encerradas as eleições, quando todos se preparavam para discutir uma renovação da Mesa Diretora da Assembleia, o deputado estadual peemedebista, atual presidente da Casa, surpreendeu ao colocar seu nome como candidato a mais uma reeleição.

No caso do deputado Themístocles Filho seria o quarto ou quinto mandato consecutivo como presidente do Legislativo, uma evidente distorção que fere o princípio da alternância, tão salutar para o desenvolvimento democrático de qualquer poder público. O parlamentar peemedebista – hoje apelidado de Hugo Chávez da Assembleia do Piauí – foi capaz de alterar o Regimento Interno, que vetava uma segunda reeleição à presidência do Legislativo. Tudo para permanecer – ou perpetuar-se – no cargo, notório por sua importância e prestígio.

O apego do deputado do PMDB pode ser explicado por seu imenso desejo de dar continuidade ao bom trabalho, feito desde que assumiu esse posto. Themístocles Filho modernizou a Assembleia, ampliou suas funções políticas e sociais, informatizou a instituição, fez reformas necessárias no imponente prédio de arquitetura modernista, construiu o Anexo, investiu em educação e ações sociais, etc. Ao criar a TV Assembleia, ele deu um passo importante no sentido de ampliar a transparência do Legislativo. Mas tudo isso pode e deve ser continuado por outra pessoa.

Descontentamento do PT

A insistência do atual presidente da Assembleia, em ficar no cargo, terminou gerando, portanto, descontentamento em agremiações como o PT, cuja bancada de cinco deputados estaduais têm defendido, diplomaticamente, a necessidade de se promover a alternância de poder na Casa. Foi uma maneira política e polida de vetar Themístocles. Até o dia em que o deputado estadual eleito, Merlong Solano (PT), assumiu uma postura mais contundente, no ato de criticar tal tentativa de perpetuação, e denunciou que a Assembleia é a segunda mais cara do País.

O petista pode ser contra o aumento do repasse ao Legislativo, mas o pano de fundo de suas contestações diz respeito mesmo é à mudança da Mesa Diretora. Enfim, essa crise política – ou apenas ensaio – na base aliada pode, sim, ser contornada, mas o postulado de Themístocles gerou uma tensão desnecessária e um exemplo questionável. A sociedade evolui democraticamente e cobra dos políticos postura mais ética, comprometida com os interesses maiores da sociedade e preocupada com a modernização do Estado no que se refere à excelência da gestão pública.

Fonte: Acesse Piauí