Na Páscoa, especialistas enumeram os benefícios do chocolate
Os cientistas dão a parte boa da notícia: o chocolate, essa delícia unânime, tem inúmeros benefícios para o organismo, como baixar a pressão arterial, melhorar a dilatação das artérias e apresentar poderes antioxidantes, graças aos flavonoides que contém. Os médicos contam a parte ruim: é preciso, apesar de tudo, comer com moderação. Mas abrem uma única exceção hoje, domingo de Páscoa, quando permitem abusar (e se lambuzar) da guloseima protagonista do dia.
– Os benefícios do chocolate têm sido comprovados em pesquisas com ingestão de pequenas porções de chocolate com alto teor de cacau, o que equivale a até 20 gramas por dia. Mas, como a Páscoa acontece uma única vez por ano, sugiro que os adoradores do chocolate comam sem culpa, e que o prazer fale mais alto na escolha do chocolate – recomenda o cardiologista Claudio Domenico.
Nos outros dias do ano, quando a data não dá desculpas para exceções, a escolha do chocolate deve ser feita de acordo com suas propriedades.
– O chocolate amargo é infinitamente melhor. Quanto mais amargo, mais flavonoides e menos gorduras saturadas – garante a nutricionista Ana Beatriz Rique, da Clínica Ivo Pitanguy e representante oficial no Brasil da Aoda (American Overseas Dietetic Association), afiliada internacional da ADA (American Dietetic Asssociation). – Mas o máximo que recomendo é de 80% de cacau, se não, chega a ficar salgado. E contraindico o diet, que é exclusivamente para os diabéticos.
Produto amargo faz bem ao coração
Os flavonoides, substâncias derivadas dos polifenóis, estão mais presentes no chocolate amargo porque este tem maior concentração de cacau. Para fazer bem à saúde do coração, o chocolate deve ser no mínimo 70% amargo. Segundo Claudio Domenico, o cacau melhora a dilatação das artérias, contribui para o perfil lipídico e ajuda a reduzir a pressão arterial. O neurocirurgião coordenador do Serviço de Neurocirurgia da Rede D’Or Eduardo Barreto complementa:
– Os flavonoides têm ação anti-inflamatória, inibem a coagulação, aumentam o HDL (colesterol bom) e diminuem o LDL (colesterol ruim).
O cardiologista Carlos Scherr, autor do livro “Redução do risco cardiovascular” (GEN), com uma tabela de composição do colesterol dos alimentos, também faz a sua recomendação:
– Há vários estudos que comprovam que o chocolate amargo ajuda a diminuir o colesterol. Mas é no máximo uma tirinha por dia.
Todas essas propriedades ajudariam a prevenir as doenças cardiovasculares. Mas Domenico alerta:
– Os estudos são promissores , mas ainda são muito variados e em número insuficiente para que possamos recomendar o uso do chocolate como terapia anti-hipertensiva.
Ana Beatriz Rique também tira o açúcar da sua recomendação:
– Há milhares de outros alimentos que fazem bem e que contêm flavonoides, como a cebola roxa, o suco de uva, a jabuticaba. Ninguém vai comer um quadrado de chocolate pensando na quantidade de flavonoides que ele contém. A motivação será o prazer.
A nutricionista diz ainda que quem quiser somar o quadradinho de chocolate amargo ao seu dia a dia deve retirar algo que já fazia parte da dieta.
– Em 20 gramas de chocolate amargo há 120 calorias. Em dez dias, serão 1.200 calorias. Em 70 dias, será um quilo – garante Bia Rique, que é $ém chefe do serviço de Nutrição da 38ª Enfermaria da Santa Casa. – E, ao se ganhar peso, aumenta-se o risco de doenças cardiovasculares.
Se moderação é a palavra-chave, consumir o chocolate controlando a quantidade também é importante na promoção do bem-estar. A substância chamada feniletilamina, presente na composição da guloseima amarga, estimula produção de serotonina, atuando assim numa região do cérebro relacionada às emoções.
– A feniletilamina é um bom estimulante, mas só se a pessoa consumir uma quantidade moderada de chocolate. O chocolate tem também uma concentração alta de carboidratos que facilita a entrada de triptofano, aumentando a serotonina que estimula o cérebro. Isso já é suficiente para melhorar a atividade da parte frontal do cérebro, aquela que está envolvida na tomada de decisões – explica Eduardo Barreto.
Guloseima em jejum gera compulsão
Apesar de todas as doces defesas a favor do chocolate, Bia Rique não dá colher de chá e explica ainda que a guloseima pode gerar compulsão em muitas pessoas:
– O ideal é que o chocolate seja consumido depois de um almoço à base de muitas fibras, que vão desacelerar a absorção de glicose. Se for consumido em jejum, a glicose do organismo estará baixa, e a pessoa terá o chamado rebote glicêmico: a glicose vai subir rapidamente, o organismo vai produzir muita insulina, a glicose chegará depressa demais à célula e ficará de novo baixa no organismo. E a pessoa vai querer mais e mais doce.