“Matar no domingo é um padrão”, alerta delegada sobre feminicídios no Piauí
A delegada Eugênia Villa, diretora de gestão interna da Secretaria de Segurança do Piauí (SSP-PI) alertou nesta segunda-feira (7) que os casos de feminicídios acontecem em meio a relações de confiança.
A delegada disse que, portanto, as mulheres precisam estar cada vez mais atentas ao tipo de relacionamento que estão tendo. O alerta foi feito depois que ontem (domingo), mais uma mulher foi morta a tiros pelo ex-namorado em Esperantina. O caso se trata da jovem Eliane Paiva (foto ao lado).
Eugenia Villa informou hoje, em entrevista ao Jornal do Piauí, que a morte por feminicídio no estado segue o padrão de acontecer no domingo, entre quatro paredes, em especial na residência da vítima. Além disso, contou que comumente o agressor se utiliza da força física por esganadura ou lesão corporal, com uso das mãos ou de objetos pérfuro cortantes. A diretora lembrou que em 2018, 25 mulheres foram mortas por feminicídio no Piauí.
“O gargalo está em uma cultura machista, numa ideia de que a mulher não se deu conta ainda de que ela pode, sim, ser assassinada por alguém que conviva com ela, que mantenha com ela relações de segurança. Por isso que ela é surpreendida e familiares também, porque nunca se vai acreditar que aquela pessoa vai tirar a vida de uma mulher. Porque você vê que na hora que ele a chamou, ela foi, atendeu, se não, ela não teria ido. Ela teria fugido desse cerco dele. Mas não, ela acreditou e a família certamente também confiou. Nessas relações de confiança que o feminicídio se instala e nós não acreditamos”, exemplificou a diretora.
De acordo com Eugenia Villa, a maioria dos feminicídios segue um padrão comportamental. “De relações de confiança, de jamais acreditar na ofensiva do agressor, de acontecer no domingo, que é exatamente quando se está com a família. No caso dela, estava em um ambiente festivo e ele teve essa audácia de matá-la quase na presença dos familiares”.
O padrão que se instala no Piauí, segundo a delegada, é desse tipo de crime acontecendo na residência das vítimas, entre quatro paredes, no silêncio. “Nós ainda vamos pesquisar se ela já havia de algum modo pedido o socorro à polícia, mas ela perfila o padrão de uma mulher jovem e ele já não perfila o padrão. Matar no domingo é um padrão. Arma de fogo não é um padrão. O padrão é a força física, é a esganadura e a veemência dos golpes de lesão corporal com a mão, instrumento contundente e também instrumento pérfuro cortante”, salientou.
Lyza Freitas