Golpe dos precatórios: vítima foi lesada em R$40 mil por estelionatários no Piauí
A Polícia Civil do Estado do Piauí deflagrou a Operação Precatório, nesta quarta-feira (04), e cumpre 16 mandados de prisão e 17 mandados de busca e apreensão no Estado do Ceará e no Distrito Federal.
Os nomes dos presos não foram divulgados.
A operação é resultado da investigação de golpes em série praticados por criminosos que se passam por autoridades públicas (desembargadores, auditores) que entram em contato com as vítimas passando informações falsas sobre o recebimento de precatórios.
O inquérito policial é presidido pelo Delegado Matheus Zanatta, Gerente de Polícia Especializada da Delegacia Geral de Polícia Civil. “Precatório é forma um ente público realizar o pagamento devido ao autor de uma ação judicial. Os autores desses crimes verificavam no site dos tribunais a lista de cidadãos habilitados a receber precatório e então aplicavam uma engenharia social fazendo com que a vítima fizesse alguma espécie de pagamento prévio para então poder receber seus valores”, explica o delegado.
Participam da operação cem policiais civis do Piauí, Ceará e Distrito Federal. De acordo com os investigadores, também há indícios de crimes praticados nos Estados da Paraíba, Alagoas, Sergipe, Espirito Santo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Ainda segundo, o delegado Matheus Zanatta, após as investigações foram identificados o modo de agir dos criminosos, os autores dos delitos e a estrutura da organização criminosa.
“Hoje com o apoio da Polícia Civil do Ceará e da Polícia Civil do Distrito Federal, serão cumpridos mandados para prisão de 16 pessoas envolvidas nos crimes investigados. Dentre os presos há aqueles que realizam diretamente os golpes, aqueles que recebiam valores provenientes das vítimas e branqueavam esses valores, e aqueles que faziam o recolhimento e recambiamento desse dinheiro, fazendo os valores chegarem até os líderes da associação criminosa”, esclarece.
Durante o período investigado, os autores tentaram o golpe contra cidadãos habilitados nas listas dos Tribunais de Justiça do Piauí, de Santa Catarina e do Espírito Santo, demonstrando o caráter nacional da quadrilha.
“Os autores se valiam de pesquisas em fontes abertas como buscadores de internet, e em fontes fechadas como empresas de bancos de dados para obter informações reais das vítimas e seus processos e dar credibilidade aos golpes”, informa ao Delegado Anchieta Nery titular da DRCI – Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, unidade que prestou suporte técnico à investigação.
Segundo a polícia, “dado o caráter interestadual dos crimes investigados”, somente com a integração entre as Polícias Civis do Piauí, Ceará, Distrito Federal e Santa Catarina foi possível encerrar o ciclo de golpes antes que mais cidadãos de outros estados se tornassem vítimas.
A Operação foi desenvolvida pela Gerência de Polícia Especializada da Delegacia Geral de Polícia Civil, Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), Delegacia de Combate aos Crimes Contra a Ordem Tributária e as Relações de Consumo (DECCOTERC) e Diretoria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (DINT-SSP).
Também integraram os esforços de investigação a Polícia Civil do Ceará, Distrito Federal e Santa Catarina, bem como os Tribunais de Justiça de Santa Catarina e do Piauí. No Estado de Santa Catarina, a ação policial contou com o apoio investigativo do Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional do Tribunal de Justiça.
Em coletiva de imprensa, o delegado Humberto Mácola, gerente de Inteligência da Polícia Civil do Piauí, informou que a organização criminosa tinha sede no Ceará, onde funcionava uma espécie de call center responsável por ligar para as vítimas. No Piauí cinco pessoas foram efetivamente lesadas, sendo o golpe mais alto no valor de R$ 40 mil. No país, o prejuízo causado pelos estelionatários é estimado em R$ 2 milhões.
Ao todo foram presas 11 pessoas no Ceará e duas no Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pelo Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI).
“Eles eram muito bem estruturados. Tinham uma espécie de call center em Maracanaú -CE com pessoas bem articuladas e conhecedoras de termos jurídicos para abordar as vítimas, outras captavam o empréstimo de contas bancárias e tinham as que recebiam a ligação depois da abordagem para dar credibilidade ao golpe. Daí eles forneciam um número específico para a pessoa retornar e um deles atendia se passando por desembargador ou tabelião do cartório para receber o dinheiro em conta”, explica o gerente da Inteligência da Polícia Civil.
O juiz auxiliar da presidência do TJ-PI, João Manoel, alerta que a Justiça não faz comunicação por telefone.
“O Tribunal não cobra nenhum valor na expedição do precatório. Não há ligação pedindo dado ou cobrando algum valor. No site do TJ tem uma lista regulamentada pelo CNJ com a ordem cronológica dos precatórios e até onde foi pago. Qualquer dúvida, a pessoa pode ir diretamente ao Tribunal”, alerta o juiz.
Por Graciane Sousa e Izabella Pimentel