Comunidade quilombola no Piauí transforma casarão do período da escravidão em museu e centro cultural
A comunidade quilombola Olho D’Água, na zona rural de Esperantina, a 189 km de Teresina, transformou um antigo casarão do período escravocrata em um museu e centro cultural para a população.
Construído há mais de 180 anos, a fazenda que escravizava negros passou a ser um centro de valorização da cultura e memórias negras de antepassados.
O casarão leva o mesmo nome da comunidade Olho D’água.
De acordo com Claúdio Henrique, coordenador da casa, o local pertenceu a um colonizador que escravizou africanos a fim de trabalharem em sua fazenda.
“Com quase 180 anos, o primeiro dono desse casarão foi um português: Mariano Carvalho de Castelo Branco. Ele veio do Portugal para o Brasil e montou sua fazenda aqui para trabalhar com os escravos vindos diretamente da África, inclusive foram esses escravos traficados que construíram esse casarão. Esses escravos foram trazidos para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar e de café”, explicou o quilombola.
Para Claúdio Henrique, o casarão, apesar de sua história triste durante a escravidão, mantém a comunidade viva. É por ele que a identidade do homem negro é preservada. A comunidade se apropriar da residência fruto de suor escravo ressignifica o poder da história.
O casarão foi tombado como Patrimônio Histórico e passou por um processo de restauração. Sua estrutura foi revitalizada e agora no local são guardados objetos, fotografias e peças históricas que fazem parte da história do quilombo.
A família de Cláudio Henrique está presente no museu. Seu bisavô foi um dos africanos traficados e escravizados trazidos para a região para trabalhar nas grandes fazendas de cana-de-açúcar e lavouras de café.
“Francisco dos Santos, irmão do meu avô, chamado de Pedro Francisco dos Santos, que é filho de José dos Santos e foi um dos primeiros negros trazido pelo português Mariano Castelo Branco”, mostrou Cláudio.
O museu, em seus vários cômodos, guarda peças artesanais fabricadas pela comunidade e tradicionais na cultura quilombola, além de artigos religiosos como imagem de santos e oratórios. Fotografias e pinturas de personalidades importantes para as memórias da comunidade e outros diversos trabalhos feitos por artistas piauienses.
Atualmente, a comunidade tem cerca de 125 famílias, a maioria são moradores envolvidos com projetos culturais para a região. Esses projetos têm como palco e ponto de encontros o velho casarão, como é o caso do grupo afro cultural Iluaiê composto por jovens de 5 a 16 anos.
O produtor cultural Everardo Santos é natural da região e contou os ensinamentos do casarão que foram lhe repassados durante os anos. Explicou também o sentimento de contribuir para a manutenção de toda uma cultura.
“Nasci e me criei aqui na comunidade. Hoje tenho 24 anos, sou coreógrafo e coordenador do grupo cultural e é muito prazeroso contribuir assim com dança, capoeira e artesanato para preservar a cultura raiz da nossa comunidade. O casarão representa uma grande lição de vida e luta e hoje saber que ele estar reformado e trabalhando dentro dele é muito gratificante para todos nós”, contou.
G1-PI