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Caso Algodões: Bispo diz que quinze pessoas morreram

D.Alfredo SchafflerEm entrevistas, o bispo da Diocese de Parnaíba (346km de Teresina), Dom Alfredo Schaffler, declarou na manhã da última segunda-feira (09), que agentes políticos estariam utilizando programas oficiais para tentar conseguir votos para as eleições de outubro.

“No passado, ao tempo da eleição, era distribuído um saco de cimento, pares de óculos, um cartão para a pessoa se receitar num médico, dentaduras, que eram entregues. Hoje, está se colocando um pedaço de asfalto, um sala de computação, uma extensão de energia elétrica, porém, com o dinheiro dos impostos que nós pagamos, só que estão aparecendo pessoas que querem por isso em troca de votos. São programas oficias mas de repente vem agora gente assumindo a paternidade e condicionando, às vezes, as pessoas para que, por conta disso, votem em A ou B. É um filme que já vimos”, declarou o religioso.

CASO ALGODÕES DE VOLTA

Segundo o bispo, em maio fez um ano da tragédia do rompimento de Algodões I, em Cocal (268km de Teresina). Na oportunidade, ele fez a celebração de uma missa em memória destas vítimas. No momento da homilia, quando fez uma reflexão sobre a tragédia, uma mulher começou a gritar, no meio da multidão, possivelmente simulando um desmaio.

“A pessoa não estava calculando que ao lado dela havia um médico. Ele imediatamente a socorreu. Pelo que tomamos conhecimento, esta snehora foi paga para atrapalhar a nossa pregação. Estamos fazendo um levantamento detalhado da situação e estamos chegando ao nome de quem pagou esta senhora. Por enquanto, ainda não tenho condições de falar o nome.”

Na semana passada, tomou conhecimento de que as vítimas não receberam as casas e também não foi ligada água e energia nas casas que foram construídas. “Depois de um ano, quando o cidadão perde tudo o que ele juntou ao longo de toda uma vida, ainda está esperando para que tenha mais apoio da parte oficial. Isso é lamentável. Houve muitos gestos bonitos da iniciativa privada, que permitiu socorro imediato para aquelas pessoas.”

‘NÃO FORAM NOVE, MAS 15 MORTOS’

Dom Alfredo prossegue: “A situação destas pessoas não está solucionada, além das vítimas fatais, que foram 15 pessoas que perderam a vida. A Associação das Vítimas de Algodões I afirma que foram 15 as vítimas fatais. Uma pessoa teve um infarto logo após o rompimento da barragem. Como era inacessível o lugar em que ela se encontrava, a pessoa morreu em consequência da barragem. Ele fez elogio à atuação do professor universitário Corcino Medeiros. Faz gestão para que as pessoas sejam atendidas em suas necessidades.”

Ainda conforme o bispo, “o governo tem limites legais, como a burocracia, licitações, contestações, prazos, mesmo em se tratando de uma situação emergencial. Nestas interpretações da lei, geralmente a pessoa humana não está em evidência. A gente lamenta isso.”

O bispo afirmou que não pode afirmar que nada foi feito. “Foi feito algo. Mas é preciso que nos coloquemos do outro lado. Se eu fosse pai de família e tivesse perdido tudo, será que estaria satisfeito em não saber o que vai ser da minha vida e dos meus familiares? Essas pessoas devem ser atendidas, de modo que possam caminhar com suas próprias pernas, não ficando apenas na dependência de uma cesta básica. Dom Alfredo disse que a barragem de Algodões foi construída há pelo menos 15 anos. É preciso ver quem construiu a obra, se houve aplicação dos recursos na sua totalidade, se houve a devida manutenção e fiscalização do material aplicado. Essa questão da segurança desta barragem vinha sendo questionada há vários anos, de tal modo que o Poder Judiciário decretou a saída dos moradores das cercanias da barragem.”

ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

“O Poder Judiciário deve ter tido evidências claras e mandou retirar as pessoas, inclusive com força policial. Quando depois, de repente, desrespeitando esta decisão judicial, alguém do governo mandou as pessoas de volta. E parece que dois dias depois houve o rompimento. Esse ponto deve ser esclarecido. Porque se existe uma decisão judicial, será que esta não deve ser respeitada? Eu creio que isso é um aspecto que deve ser aprofundado, melhor esclarecido”, afirmou ainda.

Citou a atuação do Ministério Público, que atuou decisivamente e colheu várias críticas. Da parte do governo, reconhece que houve iniciativas, mas foram falhas. “A associação se queixa de que nunca seus integrantes foram recebidos pelo então chefe do executivo para pelo menos apresentar as reivindicações. Recentemente, parece que houve uma aproximação, após a troca de governo, assim o presidente da associação me informou. No tempo da política, os candidatos andam de porta em porta e conhecem as pessoas, e depois quando acontece uma situação desta, se tem a impressão de que estes políticos ficaram distantes, não sentimos o calor da solidariedade, uma palavra, uma presença, para que pudessem apresentar as lágrimas de forma mais viva. Com todo respeito e sem revolta, porque não é nosso objetivo fazer acusação a este ou aquele, foi uma tragédia.”

O bispo disse que não pretende personalizar o debate atribuindo responsabilidade a este ou aquele agente público, mas tem consciência de que o governo do estado não agiu a contento. Ele disse que a associação se formou para ser a voz de todos. “Quem estava no exercício do governo deve assumir suas responsabilidades.” Dom Alfredo atacou o uso político da tragédia. Segundo ele, muitos que não atenderam a população a contento estão voltando agora em busca de votos.

“Mantive contato com o padre de Cocal na semana passada. Creio que não seria correto aos políticos que não atenderam a população a contento voltar agora para cobrar apoio político, por cima do sofrimento de todos. Eu lamento profundamente, se isso vir a acontecer, porque acho que não é correto. O voto é livre, deve ser praticado de acordo com a consciência das pessoas.” O bispo informou que a diocese de Parnaíba mantém uma publicação bimestral denominada “Milênio” que publica todos os valores que são repassados para os 29 municípios que integram a diocese. Ele afirmou que alguns prefeitos não aceitam que isso seja feito e por isso é criticado. “Professores passam vários meses sem receber salários. Os prefeitos alegam que não receberam os repasses. Então, a gente vai lá e mostra o quanto foi repassado. Claro que a gente incomoda, mas a verdade sempre questiona e a missão da Igreja é anunciar a verdade”, finalizou o Bispo.

Fonte:Portal 180 °

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