Wellington Dias teme “indústria da calamidade” no Piauí
Cruzando os dados das famílias atingidas pelas enchentes deste ano com as beneficiadas com habitações após as chuvas de 2004, o governador Wellington Dias quer evitar o que chamou de “indústria da calamidade”.
O temor do governo é que pessoas que não precisam de auxílio ou que já receberam em anos anteriores (e não estão mais em situação de risco), se beneficiem das ajudas emergenciais. A preocupação do governador vem antes mesmo de qualquer recurso emergencial ser anunciado para as vítimas das enchentes.
Ajuda emergencial
Durante entrevista coletiva, concedida na última quarta-feira (06) no Palácio de Karnak, Dias repetiu o discurso do presidente Lula, e enfatizou que é preciso esperar as águas dos rios e lagoas baixarem, calcular os prejuízos e, só após esses pré-requisitos, pensar em receber verbas.
A Defesa Civil estima que mais de 7 mil famílias, espalhadas por 27 municípios do Piauí, foram atingidas gravemente pelas águas. Os números mostram que 61 cidades registram danos por conta das chuvas e que mais de 200 mil piauienses sofrem com as conseqüências diretas das enchentes (queda de casas, estradas isoladas, perdas na produção de grãos).
Questionado se essas famílias têm condições de esperar o recuo das águas, Wellington Dias contextualizou e deixou claro que não há saída. São as “regras do jogo”. “Nós vamos ficar nessas 7 mil famílias [desabrigadas] ou o número vai aumentar? Quantas dessas famílias verdadeiramente perderam casas? Nós só vamos saber quantas estradas, quantas pontes no final do inverno. O normal é a gente trabalhar essa parte de projeto estruturante após as enchentes. É como o presidente disse: é preciso ter projeto para liberar recursos.”
Rebatendo críticas à visita do presidente
No transcorrer da entrevista, ficou evidente que o governador reuniu a imprensa para rebater as críticas feitas à visita do presidente Lula ao Piauí. Deputados de oposição, como Roncalli Paulo e Tererê, ambos do PSDB, questionaram a necessidade da vinda do presidente, já que nenhum recurso foi liberado em caráter emergencial.
Para Dias, é “oportunismo inaceitável qualquer pessoa do governo ou da oposição buscar tirar proveito de pessoas que estão sofrendo nesse instante”. Ele defendeu a visita do presidente no melhor “estilo” Lula: com uma metáfora. “Quando alguém está com problema de saúde, todos nós recebemos visita – de um amigo, de um parente ou de um vizinho – sem esperar que ela traga nada. E na verdade nos alegramos com a visita. O presidente veio mostrar o carinho e o respeito que ele tem pelo povo do Piauí, já que ele sempre escolhe visitar o estado em momentos bons e de grandes dificuldades. Esse foi o objetivo primeiro de sua visita.”
Porém, o governador defende que a visita não se resumiu a uma simples cortesia presidencial. Com as informações anotadas em uma folha de papel, Dias citou a liberação de 15 mil cestas básicas, kits de medicamentos e mantimentos, o empenho de verbas para a execução de um projeto antigo de ampliação no dique do Rio Poti e a liberação de uma parcela de R$ 12 milhões de um programa de habitação orçado em R$ 26 milhões. Projeto que também não é novo, mas, se efetivado, beneficiará parte das famílias atingidas com as enchentes deste ano.
“O fato é que o presidente Lula veio por um dever dele, não só para visitar, mas veio com sua equipe para tratar das soluções”, afirma Wellington Dias.
Lula não é “Sílvio Santos”
Com outra comparação, dessa vez com o empresário e apresentador Sílvio Santos, o governador Wellington Dias foi mais duro com os críticos. Ele lembrou que o governo precisar respeitar as leis vigentes no país e fechou afirmando que o povo entende mais os empecilhos burocráticos do que alguns políticos.
“É um absurdo a gente pensar que o presidente é Silvio Santos, saindo por aí com um saco de dinheiro jogando, distribuindo. O Silvio Santos é um empresário privado, ele faz do dinheiro dele o que for necessário ou importante para o seu programa de televisão. Mas aqui estamos falando de dinheiro público. Dinheiro que você tem que prestar contas. O dinheiro do Estado não é meu, é de 3 milhões de pessoas. O dinheiro do país não é do presidente, é de 180 milhões de pessoas. O povo entende mais do que muitas lideranças, porque a forma como o povo recebeu ontem o presidente é a maior demonstração de respeito de Teresina e do Piauí para com o presidente e sua equipe.”
Fonte: PortalAZ