Os protestos contra o aumento da passagem de ônibus em Teresina ganharam corpo nesta ultima quarta-feira (04). No terceiro dia consecutivo de manifestações, um número maior de estudantes e trabalhadores se reuniram nas ruas da capital.
O ato começou às 08:00horas na Praça do Fripisa e terminou mais de 10 horas depois – por volta de 18:h30min, nos acessos à Ponte Juscelino Kubitschek, que liga o centro à zona Leste da cidade.
Não houve retaliação da Polícia Militar. Viaturas, homens a pé e a cavalo acompanharam de perto o grupo, mas não tentaram reprimir as manifestações. A tropa de choque foi mobilizada, mas permaneceu em ruas paralelas, longa da vista dos estudantes e da imprensa.
Reflexo do confronto que aconteceu na terça-feira (03), uma faixa com a frase “Idéias são à prova de balas” era exibida por estudantes. A mensagem era uma alusão clara à dura repressão que o movimento sofreu quando a PM dispersou um ato pacífico com spray de pimenta, balas de borracha e cassetetes.
O trânsito como alvo
Os estudantes adotaram as mesmas estratégias das outras manifestações: passeatas, palavras de ordem, músicas de protesto e bloqueio de cruzamentos. Os atos se concentraram principalmente na Avenida Frei Serafim, que recebe diariamente um grande fluxo de veículos oriundo de várias regiões da cidade. O trânsito ficou lento e teve que ser desviado para ruas paralelas.
Houve uma série de pequenos desentendimentos entre estudantes e motoristas. Carros com crianças pequenas e pessoas doentes eram liberados. Os motoqueiros e motoristas que se dispusessem a descer do veículo e empurrá-lo também podiam transpor as barreiras.
Atrito
A organização do tráfego gerou atrito entre a Polícia Militar e a Superintendência de Trânsito. A tática utilizada pelos estudantes, de mudar com frequência os locais dos bloqueios, cansou os guardas de trânsito. A PM assumiu o trabalho, mas o coronel Márcio Santos, do BOPE, disse que vai representar contra os agentes.
Fogo
No cruzamento das Avenidas Frei Serafim e Miguel Rosa, estudantes atearam fogo em alguns pneus. O Corpo de Bombeiros foi acionado e apagou as chamas. Um grupo tentou, mas não conseguiu incendiar uma árvore de natal montada pela prefeitura no canteiro central da avenida.
Já nos acessos à Ponte Juscelino Kubitschek, galhos e troncos em chamas foram utilizados para interromper o tráfego de veículos.
Cisão
Os atos contra o aumento da passagem não têm uma liderança formal. Há grupos organizados sob a bandeira de partidos políticos, organizações sindicais e entidades estudantis. Outros se reivindicam anarquistas. E existe ainda o grupo dos independentes, jovens que não seguem correntes ideológicas específicas e participam espontaneamente das manifestações.
Essa divisão ficou bem clara nesta ultima quarta-feira (04). Enquanto partidos e organizações encerraram a participação no protesto ainda no meio da tarde, um grupo maior permaneceu nas ruas até o início da noite.
Atos diferentes também foram programados para quinta-feira (05). Parte dos estudantes deve se reunir a partir de 09h na Praça do Fripisa e outra por volta de 11:00horas no cruzamento da Avenida Frei Serafim com a Rua Coelho de Resende.
Pautas comuns
Entretanto, apesar das divisões de pensamento, a pauta entre eles é praticamente a mesma.
“O movimento tem um objetivo único. Claro que, como os estudantes são de varias organizações, as táticas podem ser diferentes”, enfatiza Luan Santana, estudante de Comunicação Social da Uespi.
Eles reivindicam a suspensão do reajuste da tarifa (que aumentou de R$ 1,90 para R$ 2,10), a gratuidade do segundo embarque e o fim do limite de tempo no sistema de integração de linhas. Uma melhor estruturação do sistema de transporte público da capital, com mais ônibus e paradas confortáveis também são foco dos manifestantes.
“Queremos também a integração total, envolvendo todos os ônibus, todas as linhas”, informa a estudante Letícia Meireles. No projeto em vigor, uma linha só integra com outras predeterminadas pela Superintendência de Trânsito da capital.
Devido a esse limite e ao fato do sistema abarcar inicialmente apenas 32% das linhas, alguns estudantes evitam usar a palavra “integração”. O universitário Danilo de Moura é um deles.
“Não tratem como integração, tratem como o início de um projeto”, diz.
Movimento deve crescer
Sentado em uma barra de proteção da Ponte Juscelino Kubitschek, o estudante Leondidas Freire Júnior avaliou como positivo o terceiro dia de manifestações. Segundo ele, apesar das férias escolares, “a tendência é que as manifestações de rua ganhem corpo” nos próximos dias.
Das redes sociais para o asfalto quente. Lizianny Leal, estudante de história da Ufpi, acompanhou pela internet os dois primeiros dias de protestos. Desvencilhada dos problemas pessoais que lhe prendiam em casa, ela participou da manifestação de hoje. A jovem considera “quase uma obrigação” ir às ruas protestar.
“Eu pouco uso transporte coletivo, mas essa é uma causa que envolve toda a sociedade. Por isso eu vim protestar.”
Tempo maior para a integração
O sistema de integração de linhas já passou por uma primeira adaptação. Em entrevista ao Jornal do Piauí, da TV Cidade Verde, o prefeito Elmano Férrer anunciou que o tempo entre o primeiro e o segundo embarque será ampliado para 01:h30min. A alteração deve valer para os percursos mais distantes.
De acordo com o prefeito, até o mês de junho todas as linhas devem ser integradas.
Fonte: AZ