Enquanto cumpria pena em SP pelo assassinato de três pessoas num cinema do shopping Morumbi, Mateus da Costa Meira trocou 49 cartas com a travesti Alcione Carvalho que é natural de Esperantina e que atualmente é radicado no estado de São Paulo. Entre maio de 2001 e outubro de 2003, revelou, no papel, frieza, inteligência e poder de manipulação.
Nas raras vezes em que trata do tema, banaliza o massacre contra a platéia indefesa, que lhe rendeu pena de 120 anos. “Se eu fizer uma bomba com explosivo plástico e implodir um shopping, eles vão continuar me achando normal”, escreveu em 2001.
“Mostrei cópia das cartas, mas meu cliente diz que não se recorda de nada”, diz Vivaldo Amaral, seu advogado. A pedido da Folha, o perito José Gonzalez analisou a grafia das cartas. Comparou-as ao manuscrito de Mateus anexado ao processo no STJ.
“Pela análise da gênese gráfica do autor, que é a digital da letra, as cartas foram escritas por Mateus”, afirma. Mateus temia que a correspondência viesse a público.
Em 2002, pede: “Queime tudo: carta, bilhete, foto, receita, jornal, dinossauro, qualquer coisa escrita que se refere a mim.” Alcione não acatou. “As cartas me pertencem. Ele queria destruí-las por mostrar como é perigoso.” Parou de se corresponder por medo. “Temia que mandasse me matar”, diz. Eles se conheceram oito semanas antes do crime. “Fui com uma amiga à Santa Casa, nos encontramos e trocamos telefones”, diz Alcione.
A travesti testemunhou um período conturbado na vida do estudante, agravado pelo consumo de drogas. “Ele estava na farinha [cocaína]. Já não falava coisa com coisa. Sempre achava que tinha alguém atrás dele.”
Alcione soube do crime pela TV. “Escrevi para entender. Mas ele é frio, arrogante e na loucura pode fazer mal a muita gente, mesmo preso.” Depois de agredir com uma tesourinha um espanhol com quem dividia a cela, Mateus foi transferido para o hospital de custódia de Salvador. Para evitar que seja levado a novo júri popular, a defesa solicitou outro exame de insanidade mental. “Mateus tem graves transtornos mentais, e como tal é inimputável e deve ser submetido a tratamento”, diz o advogado.
Sérgio Rigonatti –um dos psiquiatras que assinam o laudo no qual o atirador foi considerado imputável– afirma que o fato de ele ter um transtorno de personalidade não o exime de responsabilidade. “Ele sabe diferenciar o certo e o errado.”
Fonte: UOL