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Algodões I : Bispo fala sobre um ano da tragédia

Dom Alfredo O brasileiro tem fama de ter memória curta. Por isso, pra ver se o que dizem é verdade nos arriscamos a perguntar: alguém ainda lembra o que aconteceu no dia 27 de maio do ano passado que chocou não somente o povo piauiense, mas todo o povo brasileiro? Possivelmente poucos vão lembrar. Alguns porque têm memória curta e já se esqueceram, mas há outros que preferem nem lembrar porque assim lhes convém. Já aqueles que perderam seus filhos, parentes, amigos, animais e sua casa inteira, levados pelas águas revoltas de uma barragem, estes com certeza nunca irão esquecer-se desse dia fatídico. Agora sim, talvez alguém venha a lembrar-se – hoje, faz exatamente um ano que ocorreu o rompimento da barragem Algodões I, em Cocal, o qual deixou centenas de famílias desabrigadas e 15 pessoas mortas em conseqüência desse rompimento, é o que informa a AVABA (Associação de Vítimas e Amigos da Catástrofe Causada pelo Rompimento da Barragem Algodões).

Quantos meses cada Brasileiro trabalha para manter o estado com seus impostos? Quanto vale uma vida para o Estado? Será que as famílias que perderam tudo não têm o direito de uma justa indenização para recomeçar suas vidas de forma digna?

As famílias que perderam um ente receberam em dinheiro R$ 500,00 e o equivalente em móveis e utensílios domésticos outros R$ 4.500,00. Nós Brasileiros que sustentamos o nosso Estado só valemos isso?

Uma vez que as famílias foram retiradas de suas residências por ordem judicial pelo fato da área representar risco para as suas vidas, quem deve responder pelo retorno das famílias ao local, já que a ordem judicial foi desrespeitada? Recentemente, a imprensa piauiense divulgou que o Ministério Público do Estado está cobrando a punição da Emgerpi – Empresa de Gestão de Recursos do Piauí -, e do Governo do Estado com o pagamento de indenização por danos morais e materiais, além de indenização pelas perdas de familiares na tragédia de Algodões I. O MPE argumenta que a Emgerpi e o Estado deverão ser responsabilizados por permitirem a volta das famílias à área de risco sem um laudo técnico comprovando que a barragem não se romperia.

Dizem que perguntar não ofende, então tenhamos a coragem de indagar as autoridades do nosso Estado: quando estas famílias terão acesso aos seus direitos? As casas que seriam para estas famílias, já foram concluídas e entregues? De acordo com o presidente da AVABA, o então secretário de Defesa Civil informou que o governo do Estado do Piauí recebeu 9 milhões de reais para a reconstrução de casas populares destinadas às famílias atingidas pela barragem. Foram construídas 381 casas? Qual é o custo de cada uma dessas casas informado pelo governo do estado? E de acordo com o levantamento dos pedreiros e da população local, quanto custa cada casa mesmo? E a indenização que as famílias deveriam receber, já está sendo repassada? Não podemos deixar que apaguem da nossa memória aquele terrível dia.

O Documento de Aparecida (467) nos fala que hoje assistimos a novos desafios que nos pedem ser voz dos que não têm voz, porque diante da exclusão, Jesus Cristo defende os direitos dos fracos e a vida digna de todo ser humano. De seu mestre, o discípulo tem aprendido a lutar contra toda forma de desprezo da vida e da exploração da pessoa humana ( DA 358).

Dom Alfredo Schaffler

Bispo Diocesano de Parnaíba

Fonte: Acesso343

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