Desleal, a proposta. É assim que Antônio José Medeiros, pré-candidato do PT ao Wilson Martins (PSB), em adiar de março para junho a decisão de definir a candidatura da base governista. “É porque torna a competição desigual, e porque ele tá dizendo claramente que vai usar a máquina do governo a favor da candidatura! Eu não posso aceitar….”, declara Medeiros em protesto à tentativa de Wilson passar mais três meses no poder.
Antônio José Medeiros admite que pode sair candidato mesmo sem o apoio do governador, fala sobre erros do governo Wellington Dias, problemas na educação do estado, as bandeiras que levantará caso saia candidato e ainda diz que na política tem mesmo que haver a barganha, a “barganha moderna”. O pré-candidato petista responde ainda a perguntas de internautas feitas através do Twitter.
Portal AZ: Avaliando o governo Wellington Dias, há erros que o senhor não cometeria se fosse governador?
Antônio José Medeiros: Com certeza. É muito difícil… Eu não gostaria de usar a palavra ‘erros’. Eu acho que dava pra gente ter avançado mais. Algumas coisas não dariam para ter avançado por causa da correlação de forças políticas, tem que ter a governabilidade, e a governabilidade só se faz com você aprendendo a conviver com as forças, políticas como elas são hoje. Agora eu acho que essa evolução vai mudar a qualidade da convivência…
“…Quem é que pensava no Piauí, há 10 anos, você reunir com um governador quatro pré-candidatos? Sem tarem se agredindo, sem tarem um querendo destruir o outro? Há uma competição, é claro! Ninguém é ingênuo para dizer que não tem competição…”
… Mas eu acho que isso muda o foco. Muda o foco de que o problema é um projeto e a unidade desse bloco deve se dar em torno desse projeto. Isso compete com a velha política, que é a política do rompimento e da adesão. ‘Se eu não me satisfizer, eu vou para a oposição.’ Mas eu acho que o povo vai cada vez mais entender isso. Então eu digo que o Wellington soube conviver muito bem com as limitações, fez concessões… Eu não chamaria ‘erros’, eu acho que [o termo certo é] ‘coisas que poderiam ter avançado mais’.
Portal AZ: O senhor disse que em alguns pontos houve avanços e em outros não, por conta da tal governabilidade. Então o que avançou e o que deixou de avançar por conta da tal governabilidade? E quando o senhor diz isso, governabilidade, é se referindo à distribuição dos cargos do governo? De secretarias que foram parar nas mãos de pessoas não tão qualificadas?
Antônio José Medeiros: Não… Eu vou dar um exemplo que é mais até no varejo: eu acho que nós tivemos um grande avanço na estruturação de Planos de Cargos e Salários – um trabalho excelente que a Regina [Sousa] fez na Secretaria de Administração -, mas ainda tem muita pressão para a contratação de pessoas, para a transferência de pessoas que ainda estão em estágio probatório, pra colocar pessoas à disposição. Eu acho que… não tenho nada contra, acho que todos os partidos que participam da base têm que participar do governo – com cargos de primeiro escalão, com a indicação dos DAS e dos DAI; são cargos de confiança e cargo de confiança é indicação política. Agora eu acho que…
“… a gente precisaria ter avançado mais nessa questão das regras do funcionalismo público; não da sua carreira, mas das regras, sobretudo, de lotação, para que a coisa fosse mais racional, mais burocrática (no bom sentido da palavra)…”
…Por exemplo: eu acho que a gente precisaria ter uma interação melhor entre os vários programas… o que chega através de associações e o que ainda chega através do vereador. Às vezes o vereador é uma liderança popular, ele tem que tá, lá mesmo, é o representante. Mas às vezes o vereador é [usa] como se fosse um privilégio pessoal dele na intermediação de alguns programas que chegam. Eu acho que a gente precisa avançar. Não tenho nada contra que todo projeto que vá se mostre que é o representante de lá, independente do partido que ele é, que tá levando, ele vai pra inauguração… Isso aí eu acho que a democracia é isso…
Portal AZ: O danado é que eles fazem a barganha também com esses projetos.
Antônio José Medeiros: Não…
“… a gente barganha para onde vão as obras, a gente barganha se vai… Política é cheia de barganha. O que a gente tem que ter, a política tem que ter a barganha é… moderna em torno de grandes… é… todo partido tem direito de dizer ‘Não, eu quero essa secretária’, ‘Quero que esse programa vá para a Secretaria das Cidades e não para a ADH’. Isso é barganha moderna…”
…Agora distribuir casa popular com base no clientelismo, é barganha antiga. É essa a mudança que nós temos que fazer.
Portal AZ: E o senhor poderia falar pra gente o que acha dos outros candidatos da base?
Antônio José Medeiros: Eu acho que não é conveniente eu emitir opinião pessoal sobre eles.
Portal AZ: Mas, por exemplo, se o Wilson Martins fosse o candidato da base, o senhor aceitaria?
Antônio José Medeiros: O discurso que eu fiz no lançamento da minha pré-candidatura foi muito claro e de propósito eu fiz um discurso escrito. Nós estamos jogando dentro das regras do jogo e queremos ganhar a condição de sermos o candidato do bloco dentro das regras do jogo: confiabilidade na continuidade do projeto, boa aceitação da população tendo como principal referência as pesquisas e capacidade de aglutinar a maioria dos 10 partidos que compõem a base. Eu estou trabalhando pra isso e quero ser o pré-candidato do bloco pra isso. Porque na reunião da casa do governador todos se comprometeram; todos nós fizemos esse pacto político e eu estou dentro desse pacto, de forma que se eu não for o candidato, o PT aceitará aquele que for o escolhido dentro das regras do jogo. Não é assim tão fácil aplicar essas regras, porque qual é a pesquisa que vale? O governador tem uma proposta de final de janeiro, no máximo primeiro de março fazer três ou quatro pesquisas, umas com instituto daqui, outras com instituto de fora. Se você faz quatro pesquisas num mesmo momento, se elas tiverem a mesma tendência não tem o que discutir. Agora se uma der de um jeito e outra der de outro, aí a pesquisa pesa menos e aí vai ter a negociação política. De forma que eu acho que as regras são boas, mas a gente tem que ter…
Portal AZ: Então o senhor apóia qualquer um?
Antônio José Medeiros: Dentro dos critérios estabelecidos, nós estaremos juntos, trabalhando.
(Suellen Paz) – Soube que o Wellington Dias disse que vai dar apoio ao pré-candidato que mais subir nas pesquisas, e o senhor vem se destacando bastante. Existe possibilidade do Antônio José Medeiros se candidatar e o Wellington Dias apoiar outro candidato?
Existe. Dentro das regras do jogo.
Portal AZ: O histórico do PT mostra que em 2002 a Flora não estava bem nas pesquisas, foi candidata mesmo assim e não se saiu bem; em 2006 Nazareno não estava bem nas pesquisas, foi candidato de qualquer jeito e perdeu. Esse é um erro que o PT não vai mais cometer? O PT não banca uma candidatura fora da base?
Antônio José Medeiros: Não se trata de eu abrir mão, se trata da gente ter um pacto de consolidar esse bloco e está disputando dentro das regras. Eu acho que a minha candidatura, e o Antônio Neto entende isso, se tornou muito mais competitiva. Eu acho que hoje, quem faz uma análise da situação política do Piauí, vê não mais quatro atores, o senador João Vicente, o vice-governador Wilson Martins, o PMDB com o Marcelo Castro, e o Antônio Neto e o PT estavam mais como se fosse um apêndice do outro ator, que por si é um ator importante, que é o governador. Então, hoje, nós temos cinco atores. O PT, portanto, está no jogo, agora, respeita as regras do jogo e quer ganhar dentro das regras do jogo.
Portal AZ: No lançamento do comitê do PSB, o deputado estadual Themístocles Filho (PMDB) insinuou que o senhor não era acessível antes de ser pré-candidato. E a gente houve mesmo nos bastidores que o senhor não era mesmo acessível como secretário de Educação.
Antônio José Medeiros: Eu acho que é um mal entendido, é uma interpretação. Eu não tenho dúvidas que todos os programas que a educação desenvolve têm uma participação equilibrada da base do governo. Quem nomeia os supervisores municipais da educação sou eu; não é um decreto do governador, é uma portaria do secretário. Eu nunca nomeei um supervisor de decisão minha. Têm supervisores de todas as tendências, todas as forças. O transporte escolar é administrado com a participação de todas as forças. As turmas de alfabetização são organizadas por todas as forças. As turmas de cursinhos populares… Então eu acho que isso é que é o importante, é que os programas da secretaria tenham representação de todas as forças que compõem o governo; e às vezes até com prefeitos, não porque são de partido A ou partido B, mas uma colaboração institucional. Nós temos convênios com prefeituras que são oposição ao governo, que são mão santistas juramentadas algumas delas, alguns prefeitos. Mas aí nós não estamos fazendo convênio com o prefeito. Estamos fazendo convênio com a prefeitura. Isso aí é que eu acho fundamental.
Têm duas coisas que talvez dificulte. Primeiro, nós temos 50 mil processos por ano na Secretaria de Educação. Isso dá 4 mil processos por mês, 200 processos por dia.
Portal AZ: Processos envolvendo o quê?
Antônio José Medeiros: Processos de pessoal, de pagamento, de solicitação de coisas, de projetos para convênios. Eu visito muito as escolas. Nesse ponto eu até digo, e até com uma certa ponta de vaidade: ‘Nunca antes nesse estado teve um secretário de Educação que visitasse tanta escola como eu.’ Eu praticamente já visitei 700 escolas; e vou lá, sendo com os diretores, com os professores, com o alunos e discutimos… Isso também é participação. Então os deputados têm que ter essa compreensão: quando eu estou lá no município, eu estou falando com a supervisora que ele indicou, eu estou falando com o prefeito, que está lá na reunião, que é ligado a ele. Então o importante é esse compromisso político, nesse ponto eu sou muito tranqüilo. Eu acho que há um pouco de exagero nessa questão de fechamento.
Portal AZ: O Ricardo Berzoini disse que a prioridade do PT é a candidatura da Dilma. A ideia é puxar o apoio dos partidos para a chapa nacional, negociando nos estados. Para o PT nacional, as candidaturas nos estados são negociáveis. No Piauí, a candidatura do senhor, entra nessa negociação?
Antônio José Medeiros: O PT tem uma estratégia. É claro que até para o Piauí é importante ter um governo federal que continue esse projeto. O Piauí é um estado pobre, dependente. O governo Wellington Dias não seria o que foi sem o apoio do governo federal, sem o apoio do governo Lula. Isso é muito evidente. Os grandes programas sociais são programas mantidos pelo governo federal; os grandes programas de infraestrutura são mantidos pelo governo. Entre o governo de um estado do Nordeste e a presidência, é mais importante a presidência. Agora tem que levar em consideração a realidade de cada estado. Onde o PT é governo que tem direito a reeleição, nesse lugar é inegociável. O exemplo mais claro é o da Bahia, uma grande liderança como o Geddel [Vieira], ministro [da Integração Nacional], queria, mas o PT disse ‘Aqui não dá pra abrir’. Onde o PT tem governo, como no Piauí, que não é candidato a reeleição, o PT também é prioritário, mas com flexibilidade. Se tiver competitividade, é mais difícil do nacional negociar. E depois depende também de negociar o quê? Se o PMDB nacional já tá aliado e o diretório estadual, mesmo sem o cargo, vem, não tem uma pressão tão grande. Então depende muito da competitividade do candidato do PT e depende de ficar claro que é uma força a mais que ajude.
Portal AZ: E o senhor já decidiu se fica na Educação ou se afasta antes do prazo obrigatório?
Antônio José Medeiros: Eu me afastarei no dia 31 de março em duas situações: se eu for o candidato e se o governador Wellington Dias se afastar do governo. Nessas duas situações eu me afastarei.
Eu queria até esclarecer uma coisa. Às vezes as pessoas ficam compondo chapa, como se os quatro pré-candidatos fossem as únicas alternativas da base. Não é assim…
“…Se o Marcelo Castro não ficar como candidato a governador, ele pode ser candidato a senador ou ser candidato a deputado. Se não for eu o escolhido, eu posso não ser candidato a nada. Se o João Vicente não for escolhido, com certeza ele terá que indicar outra pessoa do partido pra ser candidato a vice. De forma que o jogo é entre os partidos, não é entre os candidatos.”
Portal AZ: O Wilson Martins disse que o prazo para a escolha do candidato é março, mas ele defende que seja em junho. O que o senhor acha?
Antônio José Medeiros: Eu acho que é uma questão mal colocada. O governador já foi muito claro na imprensa, em cada conversa individual que ele tem e naquela conversa geral que o que se trata aí não é uma questão de prazo, é uma questão da posição dele, de uma decisão… O governador é o coordenador do processo, o governador é o grande eleitor dessa eleição, então ele precisa tomar uma decisão no final de março se fica ou se não fica [no governo]. E ele já disse claramente, que só fica se ele tiver a solução de todo mundo… quem fica, quem não fica no bloco; quem é o candidato e quem não é. Ele precisa saber disso, porque depois que ele sair do governo é muito mais difícil ele ser o coordenador do processo. Então nesse sentido eu acho que é…
Portal AZ: Então é março e ponto, acabou?
Antônio José Medeiros: É março! E o governador vai ficar se não chegar a uma solução que ele ache satisfatória até lá. Depois também tem outro aspecto: eu reconheço um mérito na proposta do Wilson Martins, porque ele não esconde a motivação pessoal dele. Ele quer ficar pra com dois meses no governo crescer, Mas eu acho uma… uma… uma… é… uma proposta que coloca os outros em uma posição de desigualdade. Como é que fica o João Vicente? Como é que fica o Marcelo? Como é que fico eu se o nosso competidor vai estar no governo? Ninguém teria mais desejo de prorrogar essa prazo que eu, que entrei já agora na corrida, mas não pode. Eu sei que é desleal. Não estou querendo agredir, mas a palavra exata é desleal, essa proposta. Quer dizer, nós vamos escolher depois eu no governo? Só é uma proposta leal se quem tiver no governo não seja candidato, se não desequilibra. E depois o seguinte, eu quero aqui, mais uma vez, reconhecer a correção de comportamento do governador Wellington Dias. Eu sou o candidato do partido dele e não tem ninguém que possa acusar que ele está usando o governo para promover a minha candidatura. Então não se pode…
“…É uma proposta que não dá pra aceitar, porque ela é desleal com os outros candidatos, porque torna a competição desigual, e porque ele tá dizendo claramente que vai usar a máquina do governo a favor da candidatura! Eu não posso aceitar…”
… Wilson, me desculpe se às vezes eu sou muito duro na resposta em relação a esse ponto, mas é que eu acho que com outras propostas você não tem que ser duro, mas com essa tem que ser duro. Com essa tem que dar uma resposta muito dura e firme. Sobre esse assunto específico, não significa mudar nada de querer trabalhar junto com ele, de apoiar a candidatura dele, se ele for o candidato dentro das regras e de querer e precisar muito do apoio dele se eu for o candidato. Agora esse ponto eu acho inegociável.
(Adilana Soares): Quais suas propostas para Ciência e Tecnologia?
Antônio José Medeiros: Eu acho que na evolução desse projeto de desenvolvimento que está sendo feito no Piauí, a gente precisa entrar no compasso do que já está acontecendo no Brasil, que é uma maior integração entre as ações voltadas para o desenvolvimento e as pesquisas nas universidades e nas instituições que são voltadas para a ciência e a tecnologia. No caso, aqui, é mais a Embrapa, mas vai ser também organizado um centro de pesquisa pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, já tem o centro de pesquisa na área do mel e esse é o nosso plano; de continuar fortalecendo a Fapepi, que é a Fundação de Apoio a Pesquisa do Piauí, com bolsas para universitários que tão fazendo mestrado e doutorado. Mas acho que nós precisamos avançar para contratos e convênios de pesquisas que tenham utilidade, de pesquisa aplicada para ajudar a nossa produção. Precisamos explorar melhor a cajuína, o caju, precisamos ver como aproveitar todo esse potencial de frutas que nós temos, nativas, e que têm as suas safras. Agora eu acho que o grande desafio é a revalorização da carnaúba e do babaçu, que hoje tem projetos tanto do Ministério do Desenvolvimento Agrário, como do Ministério da Ciência e Tecnologia de pesquisa desses produtos chamados tradicionais, como desafio na área da mamona. Como não deu certo o projeto da Brasil Ecodiesel, de grande escala e pra biocombustível, porque não tem competitividade com a soja, mas tem se mostrado muito eficaz pra área dos cosméticos. A gente quer que aquilo que já está sendo feito na região de São Raimundo [Nonato] e Caracol, retorne lá pra Eliseu Martins e Canto do Buriti.
Portal AZ: O senhor como governador vai incentivar novamente o plantio da mamona. É isso?
Antônio José Medeiros: Sim. Para a produção de óleo bruto para cosméticos e isso seria na base, portanto, de esmagadoras de médio porte, operada com uma espécie de cooperativa que os produtores, devidamente orientados pela Emater e pelo MDA, fariam a sua produção… Nós temos casos em Caracol de um único lavrador que produziu 10 mil quilos de mamona em um ano, inclusive num projeto com apoio da Petrobras Biodiesel. Seriam então essas duas novidades: seriam as esmagadoras de médio porte no estilo de cooperativas e a produção do óleo bruto não seria para o biocombustível, seria para cosméticos.
Portal AZ: O biodiesel a partir da mamona foi um fracasso, totalmente inviável. Já existe alguma pesquisa que ateste a viabilidade do óleo bruto para a produção de cosméticos? É algo constatado?
Antônio José Medeiros: Nós achamos que vai ser promissor. Já está com mais de um ano que essa experiência vem sendo feita na região de São Raimundo Nonato; há mais agregação de valor, não é a venda só da mamona, é o óleo bruto – daí as esmagadoras descentralizadas. E com essa agregação de valor nós vamos ter um modelo semelhante do que se faz hoje com o caju e com o mel.
Portal AZ: Desenvolver a cadeia produtiva…
A cadeia produtiva e uma central de cooperativas que é a grande comercializadora tanto para o mercado nacional, como para o mercado internacional.
Portal AZ: Já que o senhor falou em mestrados, a gente percebe uma grande procura na UFPI, mas são poucas as vagas. E na Uespi não há oferta de nenhum curso de mestrado. O que o Estado pode fazer pra mudar isso?
Antônio José Medeiros: Sim, essa demanda vai ser cada vez maior. Quando nós assumimos a secretaria de Educação, nós tínhamos cerca de 700 pessoas com especialização; hoje nós temos os professores de nível… que estudam… que ensinam na educação básica, professores efetivos estaduais, nós já temos mais de 4 mil pessoas com especialização. Então isso significa que agora a pressão vai ser para mestrado. Nós vamos ter na Universidade Aberta experiências pilotos nessa área de mestrados, já estamos tendo na área de especialização, dependendo da matéria – pedagogia, filosofia, espanhol – é possível fazer também o nível de mestrado dentro da metodologia da educação a distância. Eu acho que a Universidade Federal, com a expansão que está tendo, com os novos concursados para os campi tanto de Teresina, como de Parnaíba, como de Bom Jesus e vai ter Floriano… São pessoas com doutorado. Nós temos hoje em Bom Jesus do Burguéia a maior concentração de doutores por habitante no Brasil. O município tem 22 mil habitantes e tem 28 doutores; é um doutor pra [grupos de] menos de mil [pessoas]. Vinte e oito doutores. Então isso, como a concorrência tá sendo grande nas vagas de concursos de todo o Brasil… e nós tivemos agora na Defensoria Pública também essa manifestação… Nós vamos ter condições de oferecer mais mestrados pela Universidade Federal.
E eu acho que esse é o grande desafio da Uespi. As vezes as pessoas têm dificuldade de entender qual a lógica da evolução da Uespi. A Uespi começou como qualificadora de professores municipais, estaduais para atender a uma exigência da nova lei com recursos do Fundef – que os professores de nível médio deveriam ter nível superior. Essa fase está esgotada, porque quase todos os professores municipais, estaduais já têm agora o nível de graduação. Então a fase que nós estamos passando agora na Uespi é uma fase de transição, de estruturação da universidade como uma instituição de nível superior mesmo. Daí agora laboratórios, bibliotecas… esses instrumentos básicos que não faziam tanta falta na primeira fase agora se mostraram muito necessárias. E foi o esforço desse governo, em dois mandatos, foi estruturar melhor a Uespi.
Portal AZ: Mas a estrutura ainda é precária.
Antônio José Medeiros: É! Ainda tem porque é uma coisa cara e, inclusive, a gente tem que entender que pra ter essa estrutura de qualidade ela não pode ser espalhada nos seus núcleos e pólos como ela era. Não dá! Nem a Universidade de São Paulo tem 50 pólos bem equipados.
Portal AZ: Essa é uma fonte de críticas do senador Mão Santa (PSC) ao atual governo. Ele diz que expandiu a Uespi, quando governador, e agora o governo do PT está fechando cursos e campi. Então, por o que o senhor está dizendo, a política que ele adotou é que estava errada.
Antônio José Medeiros: A gente tem que reconhecer, com a atuação do reitor Jônatas Nunes, houve a facilidade de acesso para a formação de professores. Esse papel na primeira fase a Uespi cumpriu. Agora, para ela cumprir o seu papel numa segunda fase, ela tinha que concentrar mais os seus núcleos, os seus pólos, os seus campi para ter mais qualidade. Ela hoje já desenvolveu também o seu Núcleo de Educação a Distância, de forma que… Já começou, por exemplo, na área de espanhol, filosofia e pedagogia, de forma que os antigos pólos da Uespi hoje vão ser atendidos através da Educação a Distância. Nós vamos ter aí cerca de 15 a 20 campi bem estruturados; ainda estamos em processo de organização.
Também há outra política que foi… está sendo vitoriosa, embora ainda tenha muito a fazer, é o programa de criação de um corpo docente efetivo. Nós tínhamos 100 e poucos professores efetivos na Uespi, hoje já temos mais de 600. Então, isso também é uma precondição pra Uespi entrar numa nova fase. Nessa fase, que eu acho que é o desafio do próximo governo, que é a fase de consolidar as estruturas mínimas de qualidade de ensino para ter realmente um nível superior e não ser só licenciatura, ser em outras áreas também, como também a fase da extensão e da pesquisa. Isso é que vai transformar realmente a Uespi numa instituição dentro do padrão que se exige. Então são dois esforços que eu acho que estão colocados para frente.
Portal AZ: Secretário, ainda falando de educação, o Piauí ainda concentra um grande número de analfabetos. O IBGE mostrou que o Estado ainda lidera o ranking do analfabetismo.
Antônio José Medeiros: Eu reconheço que é o maior desafio hoje para os gestores educacionais e é uma responsabilidade do Estado e dos municípios. Todos os anos o MEC já oferece 50 mil vagas para alfabetizados nas turmas organizadas pelo estado e 50 mil nas turmas organizadas pelo município. Em sete anos nós inscrevemos 700 mil pessoas, mais do que os analfabetos que existem no Piauí. Por quê? Porque algumas pessoas que não se alfabetizam num ano, podem se inscrever no ano seguinte, o sistema aceita (não aceita é a mesma pessoa, com o mesmo nome, mesma data de nascimento, mesma mãe no ano, mas no ano seguinte ele aceita); eu acredito que aí a gente cai para umas 500 mil pessoas inscritas. Como alguns também já sabem ler, vão participar apenas para ajudar os alfabetizadores, a gente cai aí para uns 400 mil – porque você pode provar que uma pessoa é analfabeta, mas você não pode provar que uma pessoa é alfabetizada. Uma alfabetizado ela chega na prova e não responde nada, então passou por analfabeto. E isso tem acontecido.
Agora o governo federal tem feito uma série de medidas que pouco a pouco está melhorando a eficiência do programa. Antes só era capacitação dos alfabetizadores e a sua formação em 40 horas ou em mais de 10 horas de formação continuada. Hoje nós temos o material didático (cadernos, lápis, cartolina), temos a merenda e agora temos um livro, que é igual aquele livro que vem do ensino fundamental, é distribuído diretamente de Brasília pra cada município, e temos agora os óculos. Quer dizer, são investimentos que o governo federal vem fazendo em convênio com os estados e com os municípios para melhorar o índice de rendimento. Mas mesmo assim a evasão é muito grande; os professores, as vezes tão tudo na zona rural, são pessoas que não têm formação pedagógica, são pessoas que têm ou o ensino médio completo ou às vezes só o fundamental completo; as pessoas [alunos] não se sentem muito motivadas a aprender, porque acham que estão velhas, com a vista cansada, que tem a mão pesada demais.
Portal AZ: É um problema de governo e também cultural.
Antônio José Medeiros: Não precisa você ir atrás de aluno pra ensino médio, chega é abaixo-assinado pedindo escola. Eu nunca recebi um abaixo-assinado pra abrir turma de alfabetização. Nunca recebi. Então a gente que tem que ir atrás dos alunos. E isso já revela a dificuldade, que é um problema cultural, não é um problema apenas administrativo. Agora de qualquer maneira já houve uma evolução. Eram 30% [de analfabetos] em 2000, em 2007 foi 23%, 2008 aumentou pra 24%… é um erro… as vezes é um erro porque não é um senso, é uma pesquisa por amostragem.
Portal AZ: Mas qual o índice aceitável de analfabetismo?
Antônio José Medeiros: Pra Unesco é 5%.
Portal AZ: E qual a projeção que o senhor faz para o Piauí atingir esse nível?
Olha, se nós tivéssemos uma campanha… Estou dizendo campanha, não só uma ação administrativa, eu acho que em 10 anos nós resolveríamos o problema…
Portal AZ: E por que não faz secretário? O que é que acontece?
Antônio José Medeiros: Eu acho… Eu tenho uma discordância com relação a política do Ministério da Educação. Eu acho que ela é mais eficiente do que a anterior. O que os oito anos do Fernando Henrique Cardoso fez pela alfabetização, deve-se a iniciativa da dona Ruth Cardoso, através do programa Alfabetização Solidária, que conseguiu mobilizar muitas empresas pra ajudarem, mas o governo federal não ajudava; até pra dizer que não tava ajudando a ONG da primeira-dama. Eu acho que isso foi um equívoco do governo FHC, não ter investido no combate ao analfabetismo. Nós estamos certos nesse ponto, de termos investido um dinheiro, mas a minha discordância do MEC é que ao invés da gente matricular 100 mil pessoas no Piauí, eu acho que a gente deveria matricular 50 ou 60 mil com outras condições: pagando R$ 500 a bolsa do professor ao invés de pagar R$ 250, porque aí o professor aposentado, o professor qualificado daria um terceiro turno, aceitaria ser o professor; você ter um bom esquema de carros pra fazer a fiscalização, a inspeção das turmas; e você ter também algum incentivo econômico. Eu acho que se você incluísse na Bolsa Família, como incluiu agora os jovens de 15 a 17 anos, incluísse o adulto analfabeto que está estudando, você estaria contribuindo para a redução. E uma campanha que eu digo é tipo aquela que teve na época do Mobral, com a música, você fazer mobilização em cada município, eu acho que essa seria a política; porque aí nós teríamos 50 mil e alfabetizaríamos 40 mil, se hoje nós temos 100 mil e alfabetizamos 30 mil. Quer dizer, com o mesmo recurso você fazendo um programa mais eficiente pra metade das pessoas, o índice de alfabetizados seria maior. Eu já conversei isso com o ministro [da Educação, Fernando Haddad], mas ele não concorda. Estou falando isso não é de teoria, é da experiência de sete anos sendo entusiasta dessa questão e é um dos setores da nossa política educacional que nós gostaríamos de ter avançado mais.
Portal AZ: Andando pelo interior, observamos a falta de autoestima e de esperança nos jovens. A gente pergunta em que eles querem se formar, e alguns respondem “queria mesmo era em Medicina, mas a gente sabe que aqui não temos condição. Então vou ser professor mesmo, que é o que dá pra gente ser”. Dá pra mudar essa situação?
Antônio José Medeiros: Com certeza. Eu acho que já melhorou bastante. Nesse sentido, nossa política de cursinhos populares tem tido uma função não só de rever a disciplina, de ser mais intenso o estudo, mais de melhorar a autoestima dos alunos. Eu me lembro bem de uns depoimentos de 2003, que eu visitava as salas de aula de terceiro ano do ensino médio e perguntava “Você vai fazer vestibular pra quê?” [e o aluno respondia] “Não, não vou fazer não. Pra quê? Eu sei que não passo?”. Hoje aumentou o número de alunos que tenta o vestibular e aumentou a confiança nessa disputa…
“…Agora eu acho que, como eu costume dizer, não precisa inventar a roda, o que tem que fazer é a roda rodar…”
… Nós já temos duas políticas que é o que deu certo nos países desenvolvidos: primeiro você ter a escola de tempo integral, o aluno vai de manhã e de tarde pra escola, ele tem uma carga horária maior, ele tem atividades complementares e isso é a chave pra melhorar a qualidade da educação. Nós já vencemos o problema quantitativo, vamos vencer agora o qualitativo. Há um programa nacional, apoiado pelo MEC, que nós começamos no Piauí com 14 escolas de tempo integral, vamos aumentar pra 20 e já temos 115 escolas que são jornada ampliada, caminhando para o tempo integral. Isso vai dar uma educação mais segura, de qualidade, que vai dar mais segurança aos jovens de ter oportunidade na vida. O meu sonho é que daqui a quatro anos a gente tenha, pelo menos, umas 100 de tempo integral e pelo menos umas 300 de jornada ampliada.
Portal AZ: Existem quantas escolas na rede estadual?
Antônio José Medeiros: São 830 escolas. O governador Wellington Dias gosta de dizer que só em 2022 que nós vamos ter todas as escolas do estado em tempo integral.
Portal AZ: O senhor não falou da segunda política. A primeira são as escolas de tempo integral, e a outra?
Antônio José Medeiros: É a educação profissional. No mundo desenvolvido, 30% dos alunos que fazem ensino médio fazem educação profissional; no Brasil era 7%, agora estamos com 12%. Os Cefets vão ajudar nisso, porque estão se expandindo pelo Piauí e as nossas escolas profissionais, que eram cinco e agora são 35. Eu acho que com essa formação profissional, os alunos vão se sentir mais preparados para a vida.
Portal AZ: Os governos anteriores atrapalharam o desenvolvimento da educação do estado?
Antônio José Medeiros: Olha, eu acho que a educação no Brasil está evoluindo, mas ela evolui desigualmente nos estados, dependendo da política das secretarias estaduais e das secretarias municipais. Às vezes tem mais visibilidade a secretaria estadual, mas cada município tem o seu sistema municipal de ensino. De 600 mil pessoas matriculadas no ensino fundamental, 120 mil são do estado, 480, 500 mil são dos municípios. Então, a qualidade aí vai depender muito da eficiência; e tem avançado mais ainda é muito precário. A maioria das prefeituras não tem, se quer, uma secretaria de educação estruturada. Muda o prefeito, voltam aqueles professores que estavam na secretaria para as escolas, trás outros da sala, que são partidários políticos, para dentro da secretaria. Não tem um corpo permanente de técnicos em assuntos educacionais que ajude na secretaria. É essa evolução que ainda é muito lenta nos municípios do Piauí. No estado nós estamos avançando mais…
“..Por exemplo: uma coisa que era um entrave para a melhor qualidade do ensino no Piauí era a questão da indicação política de bolsistas e estagiários. Hoje nós ainda temos esse problema em vigia, zelador, merendeiros porque ainda não chamamos todo mundo concursado, vamos chamar até o final do ano…”
… Agora professor, hoje todo mundo no Piauí já aceita o novo estilo: ou é concursado ou é de teste seletivo. Tem eleição para escolher diretor de escola. Nós tivemos de 830 escolas, 701 apareceu chapa. Onde não apareceu chapa nós vamos fazer um teste. Onde não apareceu ninguém para fazer o teste é que nós vamos ter que fazer uma indicação político-administrativa, que aí é mesmo o gestor quem indica, mas tem que ouvir as lideranças do município… Mas é um número que cada vez mais fica menor.
Nós também descentralizamos muito a educação. As nossas 18 Gerências Regionais [de Educação – GRE] funcionam. Todas têm transporte, dão mais assistência às escolas. Pra você ter uma ideia, ate aquela autenticação de documento das escolas, as pessoas vinham de Corrente para autenticar na Secretaria de Educação. Hoje, todas as 18 regionais têm pessoal treinado e autenticam o documento lá na própria sede da GRE. Fazemos um repasse mensal de manutenção; desde o tempo do professor Ubiraci o dinheiro da merenda já é repassado pras escolas, de forma que é comprado lá… Agora 30% desse dinheiro vai ter que ser compra de produtos da agricultura familiar. Nós estamos nos articulando com a Emater.
Portal AZ: Isso é um projeto de lei que foi aprovado no Congresso.
Antônio José Medeiros: É um projeto de lei já aprovado. Federal, lei federal. Nós estamos nos articulando, já constituímos o comitê gestor, que é a Emater, Secretaria de Educação e a Fetag. Já temos os nutricionistas mobilizados, para fazer o cardápio incluindo esses produtos da agricultura familiar.
Portal AZ: Quando é que o aluno da escola pública piauiense vai poder disputar um vestibular, em pé de igualdade, com o estudante que vem da rede privada? Quando não vai ser mais necessária a cota para que ele passe para o curso de medicina, enfermagem, fisioterapia ou qualquer outro que seja mais concorrido? Isso um dia vai ser possível?
Antônio José Medeiros: Hoje o governador Wellington Dias, com essa capacidade, essa grande intuição que ele tem, está popularizando a palavra projeto, que a gente não valorizava muito na política. É porque nós percebemos que certos problemas só se resolvem ao longo do tempo. O importante é ter um plano que chegue até aquela etapa e que tenha metas…
“… Eu acho que esse problema da competitividade dos alunos da escola pública para os cursos mais procurados, é uma questão que não se resolve em quatro anos, não se resolveu em oito…”
… Mas eu acho que se a gente continuar com a melhoria do ensino médio, o livro didático que não tinha e agora tem no ensino médio, expandindo as bibliotecas e os laboratórios de ciências, remunerando melhor a capacitando mais os professores, nós vamos ter um índice maior de aprovação em todos os cursos. Eu não posso te dizer assim em quanto tempo; o importante é que o processo começou e que esse processo tem que continuar…
“… Eu acho que as cotas são como a Bolsa Família, é um projeto que todos nós sabemos que é compensatório, que é política compensatória, e que é temporário. Toda política compensatória, se ela vira uma política permanente é porque fracassou…”
Portal AZ: É porque deu errado.
Antônio José Medeiros: Ela tem que ser temporária. O combate ao analfabetismo é uma política provisória. Se daqui a 20 anos a gente tiver que continuar fazendo programa de alfabetização, é porque fracassou. Mesma coisa a educação de jovens e adultos, todo mundo tem que fazer o seu estudo na idade certa; daqui a 20 anos não é mais pra ter educação de jovens e adultos, vai ter curso de atualização, de aperfeiçoamento para adultos. Então eu vejo as cotas também nesse sentido. É o que um sociólogo chamava de ‘a teoria da curvatura da vara’. Quando você tem uma coisa pendendo para o lado direito, que você quer que ela fique no meio, você tem que puxar para o lado esquerdo para depois soltar e ela ficar no meio. Porque se você puxar da direita para o centro, ela volta um pouquinho pra cá [direita]. Então nos estamos agora com a cota puxando pra cá, pra depois acabar com a cota e voltar com a situação de equilíbrio.
Portal AZ: Já falamos de problemas e soluções, mas, para o senhor, qual o maior empecilho da educação no Piauí?
Antônio José Medeiros: Eu diria… Educação é um mundo, né? Porque educação tem interação com todos os setores: nós temos educação especial, a questão das pessoas com deficiência; temos a educação profissional, que não precisa só de bons laboratórios, precisa de estágio, porque a escola não faz o estágio por si, ela tem que ter a interação com as empresas… Mas eu acho que nós temos três grandes problemas. O primeiro problema é que embora tenha aumentado muito os recursos para educação, os recursos ainda não são suficientes. Eu acho agora que com a desvinculação, a DRU, em 2011 vão ser R$ 9 bilhões a mais [para a educação]. Vão ser R$ 2 bilhões nesse ano, R$ 5 bilhões no próximo ano, R$ 9 bilhões [em 2011]. Em 2015 tem a esperança do pré-sal; vai ter bastante dinheiro para a educação. Aí eu acho que nós vamos ter uma… essa parte de recursos resolvida. Hoje, o estado e o governo federal não têm dinheiro para fazer refeitório em todas as escolas, não tem dinheiro para fazer quadra coberta em todas as escolas. Não é uma questão de gestão não, é uma questão de falta de recurso. E toda boa escola tem que ter sua quadra coberta, tem que ter seu refeitório e sua cozinha industrial. Nós temos já em algumas e estamos aumentando cada vez mais.
O segundo problema eu diria que é a gestão. A gestão de educação é uma das gestões mais difíceis. É uma coisa que eu não tinha muita clareza, eu pensava muito no sistema estadual de ensino, mas o sistema é constituído por 830 escolas que tem um gestor escolar; tem um diretor com relativa autonomia. Então eu acho que o segundo grande desafio é essa sintonia entre o gestor do sistema – a Secretaria de Educação – e o gestor escolar. Muita coisa numa escola depende muito, é visível, da atitude do diretor.
Portal AZ: Muitos diretores são desqualificados para o cargo?
Antônio José Medeiros: Não é questão só de qualificação. Tem esse aspecto, que às vezes é o professor, que é um excelente professor de matemática, um excelente professor de biologia, mas não tem a experiência da gestão. É também a questão dos posicionamentos políticos, da mentalidade. Nós agora tivemos uma avaliação do desempenho de gestores. Teve escola que uma turma todinha deu nota ‘um’ para o gestor. Bom, nós respeitamos, é a democracia… a democracia tem… mas aquilo não é uma avaliação, aquilo é um protesto. Não pode 40 alunos, todo mundo ter a mesma avaliação do gestor.
Portal AZ: Mas se há o protesto há um problema.
Antônio José Medeiros: É isso que eu estou dizendo, nós respeitamos. Tem gestores que não puderam ser candidatos a reeleição porque foram avaliados negativamente. Agora o que eu estou dizendo é a falta de maturidade, muitas vezes, para esse processo burocrático. Alguns professores ou alguns alunos votam naquele diretor não porque ele era um bom gestor, é que ele é bonzinho.
Portal AZ: Os políticos do interior também interferem nisso, nesse processo. No interior, já vimos carro de som, bancado pelo grupo do prefeito ou da oposição, fazendo campanha para eleição de diretor de escola.
Antônio José Medeiros: Então esse problema de gestão é sério. E o terceiro problema, eu não separo, que é a qualificação e a motivação dos professores. Evidentemente que esse problema aqui estou, ligado primeiro com a falta de recursos. Agora a experiência tem mostrado, o aumento do salário do professor sem a sua qualificação e sem a sua motivação não melhora automaticamente a qualidade do ensino…
“…A situação dos nossos professores tem uma dívida histórica tão grande que a gente tem que combinar melhoria salarial com qualificação e com um trabalho de autoestima, de motivação…”
…Eu diria que esses são os três grandes problemas e dentro deles a gente pode situar problemas mais específicos.
Portal AZ: Se o senhor realmente sair candidato, quais serão suas principais bandeiras de campanha?
Antônio José Medeiros: A educação é um sistema, definido pela Constituição, ela tem que ter a pré-escola (que hoje é dos municípios), o ensino fundamental (que é dos dois: município e estado), o ensino médio, e aí entra o profissional, tem a educação dos deficientes, a educação dos analfabetos e adultos e a universidade. Então você tem primeiro que ter uma política sistêmica, você não pode focar só um desses níveis, você tem que focar os conjuntos dos níveis e modalidades do ensino. São [essas] as primeiras características da política. Mas eu diria que três grandes eixos eu destacaria: o primeiro a escola de tempo integral; o segundo a ampliação da educação profissional; e o terceiro a consolidação da universidade nas áreas de pesquisa e extensão.
Portal AZ: Então sua principal bandeira vai ser a educação?
Antônio José Medeiros: Eu falei dos pontos específicos da educação.
Portal AZ: Perguntei sobre “as bandeiras” de forma geral.
Antônio José Medeiros: Ah! De forma geral é o seguinte… Eu acho o seguinte, nós estamos vivendo no Brasil um ciclo duradouro de desenvolvimento, como nós tivemos no governo Getúlio Vargas, como tivemos no governo do JK e no governo militar, sobretudo com o Médice e com o Geisel. Esse procedimento [ciclo de desenvolvimento] tem a ver com a própria evolução tecnológica, com a própria evolução da economia. Qual é o papel do governo? O governo pode incentivar ou atrapalhar. Ele não impede, não tem força para impedir, mas ele pode fazer uma política que não ajude aquele processo a se acelerar. Eu acho que esses nomes, Getúlio, Juscelino, o Geisel e o Lula, ganharam símbolos como gestores porque eles fazem uma política que ajuda um processo de desenvolvimento. E segundo, a novidade hoje é que não há distribuição desses frutos do progresso, do crescimento sem uma política social do governo. Nós tivemos no Getúlio, no Juscelino, no governo militar crescimento, mas não tivemos distribuição. Era a história de dizer ‘Vamos deixar o bolo crescer para depois distribuir’. Esse governo [o governo Lula] tá conseguindo estabilidade econômica, que é responsabilidade fiscal, com crescimento, que o símbolo e o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], e com distribuição de renda.
Portal AZ: O senhor deixou um vácuo histórico aí… Citou Getúlio, Juscelino, os militares e o Lula. E da abertura política até o Lula? Nos governos Sarney, Collor/Itamar, FHC?
Antônio José Medeiros: Foi um período de transição, não houve ciclo de desenvolvimento. Foi estagnação. De inflação alta e de estagnação. E que tem haver com a revolução tecnológica da informática e da telemática; toda empresa, todo parque industrial teve que ser reestruturado para se integrar na economia global. Nós tínhamos um modelo de desenvolvimento nacional, da industrialização substituindo importações, que se esgotou. E demorou aí de 10 a 15 anos para a gente acertar o passo no outro modelo. E o Lula nesse ponto deu de 10 em qualquer intelectual; as viagens dele, a diversificação da economia. Hoje o Brasil [lá] fora tem uma imagem melhor para os estrangeiros do que para certos setores pessimistas da sociedade brasileira. O fato de não ter mais o G8, ter o G20 e o Brasil está lá dentro, o fato de algumas empresas nossas terem virado multinacionais que tão atuando pela qualidade de mercado, nível de tecnologia; bancos nossos… o fato de nós agora termos poder de veto no FMI… Então significa que nós acertamos o passo, de ter desenvolvimento, como integração ativa da economia global e distribuição de renda. Qual é o problema do Piauí, para ir bem ao foco da sua pergunta? O Piauí, em todos esses modelos de desenvolvimento, ele teve muito investimento em infraestrutura. Foi na época do Leônidas Melo, na época do Petrônio, do Chagas Rodrigues, que correspondeu ao Juscelino, foi na época do primeiro governo do Alberto Silva, que correspondeu ao ciclo de desenvolvimento dos militares, do milagre brasileiro, e agora na época do Lula, com o Wellington.
Nós agora fomos muito mais eficientes na questão de estradas, aeroportos, energia e nos programas sociais, de Crédito Fundiário, de Pronaf, de Minha Casa, Minha Vida, da Bolsa Família e etc. Qual é o grande desafio? É que esses investimentos ajudem a melhorar a produção. Mas eles não incidem diretamente sobre a produção. Em todas as épocas a gente teve a melhoria da infraestrutura, mas a agricultura continuou produzindo pouco, grandes empresas não vieram para o Piauí; então quando passa o ciclo do desenvolvimento a gente continua com os problemas antigos. É o que eu chamo de ‘integração passiva’ no desenvolvimento. Como o Brasil agora está fazendo uma integração ativa da globalização, nós temos que fazer uma integração ativa no desenvolvimento brasileiro. Pra isso, duas grandes coisas: primeiro a agricultura familiar. É preciso fazer uma política integrada da SDR, da Emater, etc pra esse exemplo que é o mel e o caju em Picos seja o exemplo pra isso. É um negócio que não é só financeiro e técnico; é como o analfabetismo, é também cultural. A família, o agricultor familiar precisa entender que ele tem que planejar, que ele tem que produzir para o mercado, para ganhar dinheiro e não só para a subsistência dele. Mais desenvolvimento é mudança na estrutura produtiva: esse eu acho que é o foco do próximo governo – aproveitando tudo que já foi feito.
A segunda linha é a grande empresa. Nós já temos alguns inícios. Nós já temos a Vale, que já está aí, tem a Bunge, tem a Suzano que vem fazer um grande investimento e nós vamos fazer duas Zonas de Processamento de Importação – uma em Parnaíba, outra ali em Pavussu. Então eu acho que isso vai atrair mais, vai aumentar a nossa produtividade, agregação de valor, vai transformar a economia piauiense. E o turismo. Eu acho que o Sílvio Leite tem andado no caminho certo.
@sashacouto (Sasha Bezerra) – Como o senhor pode resolver o problema das pessoas que vivem em áreas de risco de alagamento? Pois as chuvas começam e elas não podem passar a vida em alojamentos e depois voltando para as mesmas áreas.
Antônio José Medeiros: Quando o Lula veio aqui, as pessoas se chocaram assim porque o Lula disse ‘Não vai vir dinheiro se não tiver projetos’. É justamente para evitar esse erro; na hora da calamidade todo mundo fica sensível, vai o dinheiro pra casa e a pessoa faz a casa na mesma… Agora… Então a ideia é fazer um projeto mais definitivo. Nós estamos tendo exemplo disso ali na área de Cocal e Buriti dos Lopes. Eu visitei lá com o governador, tão sendo feitas 348 casas em Cocal, na zona rural, todas de uma área atingida da enchente do rio. É uma política que eu acho a política correta, das pessoas irem para as áreas que não sejam de risco. O governador diz uma coisa que eu acho muito certa: ou você ocupa a área de risco, com algum empreendimento, com área de lazer ou então depois ela está habitada por outras famílias. E a gente tem que ter cuidado com isso aí.
Fonte: PortalAZ
Bla bla bla, bla bla bla, tudo conversa fiado, o principal objetivo mesmo é encher o bolsinho dele e se dar bem, como todo ou qualquer um que entrar. Só agora que veio apontar os erros do governo atual!!! se ele passou esse tempo todo junto com o mesmo, por que não ajudou a corrigir enquanto tinha tempo? esse senhor tá é numa escola e o wellington é o professor com certeza ele já aprendeu muuuito!!! rsrsrsrs. Um bom aprendiz se torna igual a seu mestre. É…, mas deixa o homem trabalha, ou seja, fazer campanha, faz parrrte!!!!