Quem entra na fila à espera de um transplante de órgão já imagina que levará tempo para encontrar um doador. Além da grande quantidade de pessoas que precisam de um órgão e do reduzido número de doadores, é preciso contar com as prioridades e contratempos relacionados à compatibilidade entre doador e receptor.
No Rio de Janeiro, em 30 de julho, a Operação Fura-Fila, da Polícia Federal, prendeu o ex-coordenador do Rio Transplante e médico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Joaquim Ribeiro Filho, acusado de chefiar uma equipe de médicos que fraudava a fila única de transplantes de fígado, mediante pagamento.
Em uma das principais denúncias contra o médico, a irmã de um paciente que morreu sem o transplante de fígado disse que seu irmão estava internado aos cuidados de Ribeiro Filho e sua equipe. Ao perguntar sobre a situação da saúde do irmão, o médico respondeu que a única solução para salvar a vida do paciente era pagar R$ 150 mil pelo transplante a ser realizado em uma clínica particular. A transação não foi consumada pela falta do dinheiro para o pagamento.
De acordo com o Ministério da Saúde, casos como esse acontecem porque, a partir da captação, o implante do órgão é responsabilidade da equipe transplantadora. “Quando é feita a seleção de candidatos a receptores de órgãos, a equipe médica responsável pelo primeiro selecionado é comunicada. Se a equipe confirma que irá realizar o transplante neste paciente, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) autoriza esta equipe a realizar a retirada do mesmo”, afirma a assessoria de imprensa do Ministério.
Doação de órgãos
Ainda segundo o Ministério da Saúde, todos os órgãos ou tecidos obtidos de um doador falecido deverão ser distribuídos segundo o sistema de lista única, que é organizado pela Secretaria de Saúde de cada estado. Quando um órgão captado não é transplantado no estado, a CNCDO checa se há um receptor na região. Se não houver, o órgão é disponibilizado na fila nacional.
O paciente, ao ser inscrito na fila de espera, deve receber o comprovante de sua inclusão, expedido pela CNCDO, bem como os critérios de distribuição do órgão ou tecido ao qual se relaciona como possível receptor.
Como o transplante é um procedimento que depende da existência do órgão de um doador, o ministério afirma que não há como o candidato ter a garantia de que será atendido, ou seja, sem doador não haverá transplante. Ainda assim, a ordem da fila deverá ser respeitada. A priorização de um ou outro paciente, de acordo com o ministério, varia de acordo com o tipo de órgão a ser transplantado e a situação de cada paciente.
Mais procurados
Os órgãos mais transplantados no Brasil são córnea, rim, fígado, coração, rim e pâncreas conjugados, pâncreas isolado e pulmão. Coração e pulmão são transplantados quando há compatibilidade sangüínea e anatômica entre o doador e o receptor. Além disso, outro fator que dificulta a doação desses órgãos é que o tempo máximo que eles podem permanecer fora do corpo é de quatro horas.
Já órgãos como os rins têm uma duração maior, podendo aguardar até 36 horas para serem transplantados. Outra característica favorável ao rim é que, geralmente, os dois rins de cada doador podem ser utilizados em receptores diferentes, beneficiando um número maior de pacientes. Tecidos como a córnea, que não dependem da compatibilidade entre doador e receptor, podem ser captados de doadores até seis horas após a parada cardiorrespiratória, facilitando a disponibilidade dos mesmos.
Números da esperança
Em 2007, foram realizados, no Brasil, 15.855 transplantes. O número é o maior registrado desde 2001, segundo dados do Ministério da Saúde. Transplantes de córnea (11.417) foram os de maior incidência no ano passado, seguidos por transplantes de rim (3.040), córnea (971), coração (159), rim e pâncreas conjugados (116), pâncreas (78), pulmão (50) e fígado e rim conjugados (24).
Enquanto isso, na fila, pessoas em número visivelmente mais elevado do que os órgãos disponíveis aguardam. Em 2007, foram 66.361 candidatos a receptores. A maior parte deles (34.133) aguardava por um transplante de rim. A procura por córneas vem em segundo lugar, com 24.584 candidatos, seguida por fígado (6.453), rim e pâncreas conjugados (557), coração (315), pâncreas (183) e pulmão (136).
Fonte: G1