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Morre aos 78 anos de idade o pároco da cidade de Joaquim Pires Fred Solon

Padre Fred SolonFaleceu por volta das 5:00 horas da manhã de hoje vitima de parada cardíaca, aos 78 anos de idade, o missionário Jesuíta Padre Fred Sólon que era administrador paroquial da vizinha cidade de Joaquim Pires.

O padre Fred Sólon era natural da cidade de Fortaleza do Ceará e estava a 1 (um) ano e três meses de missão a frente da paróquia de Santa Dorotéia no município de Joaquim Pires, onde realizou relevantes trabalhos como: a volta do tradicional festejo de Santa Dorotéia no período correto, a implantação do mirante com a imagem da padroeira da cidade e a reforma Fred Solonda Igreja Matriz e do Centro Comunitário daquele município.

“Começo o dia às cinco horas da manhã, faço a minha oração e começo logo as minhas atividades: atendendo às pessoas, visitando as comunidades distantes, celebrando missas, promovendo encontro” disse uma vez o Padre.

De acordo com informações o corpo do Pároco será transladado para o estado do Ceará de avião onde será enterrado na cidade de Fortaleza.

Padre Fred Sólon foi também homenageado no dia 25 de setembro deste ano, com o prêmio “Sereia de Ouro” que é organizado anualmente pelo Sistema de Comunicação Verdes Mares do Estado do Ceará, em reconhecimento pelos seus serviços de evangelização ao lado dos pobres.

Missão entre os pobres: leia entrevista com Padre Fred Solon

Há pouco mais de um ano, a rotina de evangelização do padre Fred Solon foi levada à pequena Joaquim Pires, no interior do Piauí. Ele tem a missão de reestruturar a ação católica em toda a região, na fronteira com o Maranhão. “Lá são 58 localidades. Quase todo mundo sobrevive por conta do Bolsa Família e de aposentadorias. Celebro a missa praticamente no meio do mato”.

Mais próxima de Viçosa do Ceará (148 quilômetros) do que de Teresina (229 quilômetros) e ainda mais perto de cidades maranhenses como São Bernardo (77 quilômetros), Joaquim Pires tem cerca de 13 mil habitantes, 48 anos de emancipação política e é conhecida por ser banhada pela Lagoa do Cajueiro, eleita uma das Sete Maravilhas do Piauí. Com ajuda de um grupo de amigos de Fortaleza, que preferem manter-se no anonimato, padre Fred Solon pôde realizar a reforma da casa paroquial, a pintura da Igreja e outras ações. “A Igreja estava muito abandonada, hoje quadruplicou a freqüência. Há dois anos, o padre anterior proibiu a festa da padroeira e nós retomamos. Foi uma apoteose, com duas mil pessoas na procissão”. Em 28 de outubro do ano passado, o site da cidade registrava o sucesso do festejo da padroeira, Santa Dorotéia, confirmando o trabalho desenvolvido pelo padre. “O festejo de 2008 ficará na história como um dos mais animados e organizados pela Igreja Católica, graças à atuação eficiente do padre Fred Solon, que com suas inovações, fez com que os fiéis voltassem a participar da Igreja, com entusiasmo e devoção, transformando e inovando a celebração através da participação de bandas musicais e apresentações teatrais. Sem falar do coral de 200 vozes, formado por crianças, adolescentes e idosos”.

Apesar de recente, o vínculo com padre Fred já levou o pequeno município a dedicar, em maio deste ano, o título de cidadão joaquimpirense ao religioso cearense. O entusiasmo dos piauienses também já é bastante conhecido entre outros católicos. Afinal, o empreendedorismo do religioso, fortalezense, de 6 de agosto de 1932, sempre chamou atenção. Seja como vice-diretor do Colégio Santo Inácio ou em Baturité, onde atuou por sete anos, ou ainda como padre missionário no interior da Bahia ou em Moçambique.

Vem sendo assim desde que, em 1956, aos 26 anos, decidiu deixar de ser Luiz Ferdinando Torres da Costa e Silva para tornar-se padre Fred Solon. “Solon era o nome do meu pai, Mozart Solon. E Fred é meu apelido desde que eu me entendo”, conta. E rememora o filho de Stela Torres da Costa e Silva: “O Torres é do Dionísio Torres, empresário, meu tio, e do Flávio Torres, meu primo, hoje suplente de senador da Patrícia Saboya”, acrescenta.

A princípio, a formação jesuítica ginasial, em Baturité, manteve-se reservada, enquanto terminava o estudo nos colégios Castelo Branco e São João. Mas sua religiosidade se manifestava em ações práticas como o incentivo à criação de um posto médico e de um refeitório para os funcionários da fábrica Brasil Oiticica, onde era assistente administrativo. “Pensava em me casar. Tinha até o nome dos filhos planejados. Eu estava na Brasil Oiticica, com 1.500 operários. Quando descobri que gastava em um jantar o que um operário ganhava em um mês, vi que alguma coisa estava errada. Tive uma formação católica, sempre li muito, depois larguei tudo. Tinha Nietzsche como livro de cabeceira, até que um dia minha mãe me deu um Evangelho e me apaixonei por Cristo, assentando a minha fé na Igreja. Percebi que queria mais do que uma simples família, queria um amor de dimensão continental, mundial. Estou feliz por isso”.

Missionário da libertação

Foi junto ao noviciado jesuíta de São Paulo que foi buscar sua formação em Letras Clássicas, complementada no Curso de Filosofia e Sociologia em Nova Friburgo (RJ). Foi então para o Curso de Teologia, em Porto Alegre e em Buenos Aires, ordenou-se em 1966. “De Buenos Aires fui para Paris. Passei quatro anos na Sorbonne e, quando cheguei, perguntei: Dom Helder, onde tem mais pobreza no Nordeste? E ele: ´Fred, do norte de Minas ao sul do Piauí, passando pelo Médio São Francisco´. Então, fui procurar a cidade de Barra do Rio Grande, na Bahia. E lá vivi sete anos em uma casinha de taipa, fiz uma fundação, várias escolas e postos de saúde, cooperativas, mais de 80 projetos comunitários, ajudado pelos Estados Unidos e Europa. Depois destes sete anos, deixei tudo mudado”.

Padre Fred passou um ano na favela Amaralina, em Salvadore voltou para Fortaleza, tornando-se vice-diretor do Colégio Santo Inácio, durante três anos, período em que atuou ainda na mobilização social do Jangurussu. Em 1981, parte para Recife, atuando até 1995 junto à Universidade Católica de Pernambuco e ao Colégio Nobre. De lá, sua vida de missionário o leva a passar quatro anos em Moçambique. “Ali o que se pode dizer é que a pobreza era total”. Mas por lá, entre elevados índices de Aids, também incrementou sua doutrina como professor de Bioética na Faculdade de Medicina. Daquele desafio transcontinental, padre Fred volta às origens no Mosteiro dos Jesuítas, em Baturité. “Mas eu tinha aquele apego de trabalhar com a pobreza, e pedi para me mandarem ao Estado mais pobre, que é o Piauí. E por lá quero permanecer o tempo que eu quiser, enquanto Deus me ajudar”. Uma vida de franciscano, por certo, “mas de jesuíta”, ressalta. “O jesuíta também faz voto de pobreza, passa por privações, desconforto. Mas o povo é muito bom, o povo me cobre de carinho, de abraços. A renda da paróquia dá seiscentos reais por mês, tenho que me virar pra manter”. Ele conta que precisava lidar com 58 localidades, mas a pobreza e a distância só permitem que ele acompanhe 22 delas. “Começo o dia às cinco horas da manhã, faço a minha oração e começo logo as minhas atividades: atendendo às pessoas, visitando as comunidades distantes, celebrando missas, promovendo encontros. São 16 pastorais e conselhos. Então, a atividade de um pároco em uma cidade pobre é atender todas as pessoas. E faço isso com a ajuda dos colaboradores, 80 pessoas que trabalham voluntariamente na paróquia. Eu tenho programa de rádio todo dia, onde dialogo com todos”.

Todo o esforço tem sido compensado com o retorno dos fiéis ao catolicismo. Mesmo assim, padre Fred sugere que por trás da dimensão ritualística da Igreja existe uma dimensão psicossocial – as doutrinas, os compromissos sociais – e ainda uma dimensão teológica, divina. “As doutrinas evoluem conforme os séculos. Teve tempo em que a Igreja não denunciou a escravidão, mas a história dos jesuítas, por outro lado, sempre foi de muito compromisso social. Faço parte desta plêiade”, considera. E acrescenta: “O papel da Igreja hoje não é substituir o Estado. Mas ela deve ser subsidiária, preocupada com a saúde, a educação etc. Em todas as diretrizes da economia e da ética, a Igreja sempre teve um papel de orientação, não de dominação. E lá em Joaquim Pires procuro fazer a mesma coisa: fazer o povo pensar um pouco, dar referenciais religiosos e éticos, não dominá-lo. Anunciando e denunciando, devemos buscar a libertação do cidadão, do ser humano, de tudo o que é escravidão”.

Por isso, padre Fred se coloca plenamente de acordo com os princípios dissidentes da Teologia da Libertação. “Houve mais de 800 padres exilados, torturados e mortos na América Latina pelas ditaduras militares. E a Teologia da Libertação é profundamente evangélica. Sua grande herança continua sendo as Comunidades Eclesiais de Base, que orientam a minha filosofia também: concordo com o Leonardo Boff de A a Z, o povo tem que assumir seu próprio destino. Onde estou sempre ouço a comunidade. Estamos lá para servir”.

Padre Fred comenta que recebeu com surpresa sua indicação para o Troféu Sereia de Ouro.

“Para mim é uma homenagem à ordem dos jesuítas a quem eu pertenço, aos sacerdotes e à Igreja também, porque até hoje só foi monsenhor Camurça, o cardeal dom Aloísio e agora eu, padre Fred. Acho que tem tanto padre melhor do que eu… Mas, já que fui eu, a gente tem que aceitar, sem orgulho e sem vaidade”.

Fonte: Diário do Nordeste

Um Comentário

  1. Pessoas como Padre Fred que na idade avançada ainda aceitam um duro desafio de trabalhar num dos rincões mais pobres do Brasil merecem nosso aplauso, nossa profunda admiração e gratidão. Sem dúvida um exemplo raro, muito raro.
    São essas pessoas que passam para mim a alegria, o brilho de ser cristão.
    Os anjos farão a festa no céu, enquanto à sua comunidade da pobre Joaquim Pires fica o consolo de ter convivido com um santo dos dias de hoje.

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