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Para advogado, Fernanda Lages foi morta por ‘gênio’ do crime

fernanda-lages-com-pais-paulo-e-joseliaOs últimos acontecimentos sobre o Caso Fernanda Lages deixou o pai da vítima bastante desanimado com o possível desvendamento do crime. Um delegado da Polícia Federal tentou persuadir o genitor da vítima a se “conformar” com o resultado das investigações, não muito animadores para apontar o criminoso ou os possíveis criminosos.

Atitude estranha, muito estranha desse policial! Mas, vai aqui minha contribuição para a “Verdade Real”. Seja qual for o canalha que matou essa jovem garota, a sociedade tem que apoiar a família, que sofre com um descaso revoltante. A certeza de que houve homicídio e a inércia em se identificar o(s) criminoso(s), deixa a todos com os nervos à flor da pela. Um absurdo! Aliás, o caso poderá integrar o rol dos crimes perfeitos praticados em toda a humanidade. Um rol que é pequeníssimo, diminuto, diga-se de passagem.

O ARTIGO

No curso de Direito, a disciplina Medicina Legal é apaixonante, sem dúvida alguma. Através dela fica-se deslumbrado com o Direito Penal e, porque não dizer, com a investigação policial, de modo especial quanto às cenas de crimes. “Não alterar a cena do crime”, eis, portanto, a frase mais ouvida nas aulas de Medicina Legal, no campo da Criminologia. Preservar o local do crime e o corpo da vítima é parte fundamental (entre as importantes) para o desvendamento de um assassinato. Quanto mais o local estiver preservado, mais fácil será o trabalho na investigação do evento criminoso.

Porém, Marco Antonio Desgualdo, um renomado investigador da Polícia Civil de São Paulo, dizia: “O cadáver fala”. Segundo ele, no corpo da vítima é possível encontrar algumas importantes pistas. Por exemplo: se houve luta, abraços, empurrões, quedas, socos, pancadas, ponta pés,… Até beijos! E que sob as unhas dela vítima possa haver pele do assassino. Fios de cabelo e pêlos do corpo no local também podem, enfim, indicar o criminoso. Por isso, afirmou o experiente policial, toda a atenção é necessária. Muitas vezes, sabendo desses detalhes, assassinos tentam mascarar a cena do crime e até tomam alguns cuidados, como, por exemplo, comprar luvas, meias, máscaras,… O objetivo, evidentemente, é não deixar vestígios.

Inúmeros foram os casos policiais em que foi possível desvendar um assassinato pelas marcas deixadas pelo calçado dele criminoso. Ao deixar o local do crime, o assassino pisou com seu tênis no sangue da vítima e deixou marcas no chão. Na investigação, descobriu-se o número do tênis dele e o modelo, a marca de fábrica.

Há tempos atrás, a perícia brasileira dispunha de poucos recursos técnicos. Para recolher impressões digitais, por exemplo, passava-se um pó para localizar uma digital e a recolhiam num pedaço de durex. Os peritos andavam com água oxigenada no bolso para jogar sobre manchas e verificar se era sangue. Se a água oxigenada fervesse, era sangue.

Hoje, tudo se modernizou. No Instituto de Criminalística de São Paulo, para onde o corpo da estudante de Direito Fernanda Lages foi encaminhado, tem equipamentos de última geração similares aos usados pelo FBI. Entre eles, um microscópio de última geração, chamado de “microscópio de varredura”, que é capaz de encontrar um grão de areia nas roupas de alguém. Já houve casos em que o assassino negou o crime, mas foi pego porque a terra encontrada na roupa dele (mesmo depois de ele a ter lavado) era do mesmo tipo da terra onde foi encontrado o corpo da vítima.

Outro recurso importante também usado pelo Instituto de Criminalística paulista, e também pela Polícia Federal brasileira, é o LUMINOL. Na verdade, é uma substância especial que veio substituir a artesanal água oxigenada. Quando colocada sobre uma mancha de sangue, ela fica fluorescente, azulada. Mesmo que o criminoso ou os criminosos limpem o local, o LUMINOL consegue mostrar que ali havia sangue. No Piauí, tal recurso foi usado no Caso Fernanda Lages, nas primeiras horas daquela morte.

Com a tecnologia à disposição das polícias modernizadas no país, as provas colhidas e somadas podem formar um conjunto probatório forte e contribuir para a prisão de criminosos e para a decisão da Justiça. É de pensar-se que a Polícia Federal do Piauí esteja debruçada sobre esse somatório para apresentar à sociedade local uma conclusão convincente no Caso Fernanda Lages.

Relembremos, por oportuno, o Caso Isabella Nardoni. A perícia, na época, enfrentou um grave problema, provocado por falha da polícia: a cena do crime não foi preservada. Mesmo assim, conseguiu-se trabalhar e as conclusões do inquérito acabaram redundando na prisão do pai da garota, Alexandre Nardoni, e da madastra dela, Anna Carolina Jatobá. Uma prova importante foi uma marca de um solado de sapato encontrada na cama do quarto, perto da janela de onde a menina foi atirada. Equipamentos especiais demonstraram que aquela marca era idêntica à de um calçado usado por Alexandre Nardoni. Também, na camiseta usada por ele no dia do assassinato foram encontrados minúsculos e quase invisíveis pedaços da rede de proteção colocada na janela de onde a menina foi arremessada. A rede foi rasgada para que o corpo pudesse passar pelo vão e despencar do sexto andar. Tudo isso graças ao “microscópio de varredura”, que detectou os fragmentos da rede na roupa do pai.

De acordo com Julia Layton, a investigação da cena do crime é o ponto de encontro entre a ciência, a lógica e a lei. “Processar a cena do crime leva muito tempo e é tedioso, pois envolve informações sobre as condições do local e a coleta de todas as evidências físicas que podem de alguma forma esclarecer o que aconteceu e apontar quem o fez” – diz.

Na opinião de Joe Clayton, embora haja crimes premeditados, a experiência prova que a maioria dos crimes violentos é cometida no calor do momento. O criminoso está agitado, possivelmente sob a influência de drogas ou álcool, envolvido passionalmente, e não tem desenvoltura para cobrir rastros deixados na cena da ilicitude. “É raríssimo que um “gênio do crime”, que tenha conhecimento da Ciência Forense, cometa um assassinato perfeito e se livre dele”, assegura a doutrina penalista.

Então, se nossas polícias civil e federal fizeram tudo isso no Caso Fernanda Lages, por que não identificar o(s) criminoso(s)? Ou se não fizeram nada disso, paciência, doutor! Isso é apenas o elementar, obrigação profissional, o corriqueiro nos dias de hoje! Ufa!!!

*Publicado no Jornal de Luzilândia

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