Sociedade

Djalma Filho é absolvido da morte do jornalista Donizetti Adalto

A 1ª Vara do Tribunal do Júri de Teresina, realizou na última  quarta-feira (27), o julgamento do ex-vereador, Djalma  Filho, acusado de ser o mandante do assassinato do  jornalista Donizetti Adalto, após quase 24 anos do crime.

Após mais de 12 horas de sessão, Djalma foi absolvido pelo Conselho de Sentença por 4 votos a 1. O julgamento do caso emblemático no jornalismo piauiense foi adiado por três vezes, anteriormente, nos últimos cinco meses. A decisão cabe recurso.

Donizetti Adalto foi assassinado em 19 de setembro de 1998, na capital piauiense.  O juiz Antônio Nolleto comandou o julgamento do caso e o promotor de Justiça, Régis Marinho, representou o Ministério Público do Estado do Piauí.

Em seu depoimento, Djalma negou a acusação do crime. Ao ser questionado sobre quem poderia ser o autor, ele destacou que não teria como atribuir a quem quer que fosse, a não ser os nomes já vinculados ao processo. Em relação às provas dos autos, Djalma Filho frisou não há provas e as que estão sendo apuradas ‘resvalam da verdade’. 

Sobre seu relacionamento com Donizetti Adalto, o ex-vereador descreveu que os dois tinham um relacionamento cordial com um objetivo em comunhão no contexto eleitoral da época. Djalma frisou que ele era o homem respeitado no meio político vindo já de algumas eleições, mandados e o jornalista o homem da televisão, do ‘palco’.

“Não tinha nada contra e tinha pontos a favor, relacionamento era de dupla face, era o mesmo que eu tinha com ele era o mesmo que tinha comigo. Um bom relacionamento. Diríamos que estávamos em parceria que se juntava, o que eu tinha de opinião formada, de respeito, ele tinha algo de trazer para a campanha, aquilo que se chama de popularidade, ser conhecido. Entre ser conhecido e ser votado, existe uma distância muito grande. Eu estava em uma campanha politica que precisava de 15 mil votos para me eleger. Ele iria ter mais de 100 mil votos, com 40%, seria 40 mil votos ou até mais […] O dia a dia nossa era de cordialidade. Nós não tínhamos em que nos dividir ou degladiar, estamos em comunhão de propósito, nossa rotina era assim: pela manhã caminhadas nos bairros. A tarde reunião interna e em seguida o comitê a noite. Isso durante a semana, os fins de semana era destino a viagens no interior. Tivemos um desenrolar de uma campanha, onde aquilo que ele trazia onde era um nome conhecido para alguém que dava respeito a campanha, dois anos antes tinha recebido quase 7 mil votos em Teresina. Eu tinha ganho a respeitabilidade de liderança dos bairros. Donizette era o homem do palco, da televisão, eu era o homem dos bastidores. Eu tinha as pessoas, as lideranças. Essas pessoas estavam a campanha porque fazíamos uma boa dupla para cidade”, disse em parte do seu depoimento.

Djalma Filho também descreveu como ocorreu o momento da morte do jornalista, sobre como foram abordados e até a ida ao hospital. O réu também citou o período após o crime e como lidou com a acusação durante todos os anos.

Além disso, emocionado, o advogado revelou um diálogo com seu pai que dizia que ele só iria se livrar ‘do peso da acusação’ quando fosse julgado.

“Era muito traumatizante que um amigo que estava comigo 24 horas antes e estava ali em um caixão, por conta desses fatos, eu recebi a acusação de ser o acusado de envolvimento no crime, do que eu não participei, que eu não comandei, que não tive nenhum ato de coisa alguma, que levasse ao envolvimento por estar respondendo por ele. O peso desta acusação, após 23 anos e meses, sabe como eu conto? Eu conto em dias. São 8621 dias e noites que eu respondo por uma acusação injusta e improcedente. Todas essas noites e dias eu não posso ter o remorso da culpa, eu tenho o peso na acusação por fatos que não fiz. Eu vou dizer algo aqui, que o povo lá de casa não sabe, meu pai faleceu em 17 de março de 2014, foi de novo uma madrugada, no sábado dia 15. Eu visitava duas três vezes por dia na casa dos meus pais […] as palavras de meu pai não foram as palavras de costume. Ele virou para mim e disse: ‘Meu filho, meu fim está próximo, eu tenho um pedido a lhe fazer. Você só vai recuperar a dignidade de seu nome e sua família quando você se submeter a um tribunal do povo. Ele acompanhou a batalha jurídica de tantos anos, as idas e vindas de um processo, debates jurídicos, mas ele acompanhava muito de perto, uma longa luta. Meu pai me disse isso, enfrentar um tribunal em que for comprovado que você não teve nada a ver com esse crime e não agiu para que houvesse essa morte. Tinha uma cuidadora do lado, essa moça ficou chorando e logicamente eu também. Eu me comprometi com ele. De que esse dia chegaria para mostrar a cidade de Teresina, aos amigos e tantos conhecidos e aos parentes que essa acusação nunca poderia ter prosperado em relação a mim, a ponto de que poderia se transforma em uma lenda urbana, aquele que se tenha apontado o dedo quantas vezes. Eu não tenho que esconder. Meu pai morreu 24 horas depois dessa conversa. Ninguém da minha família sabe disso, essa foram as últimas palavras dele para mim. Nas últimas palavras as restou esse compromisso de honra, de resgate. Eu fiz amigos sofrerem, familiares chorarem e meu pai não viveu para ver esse dia”, pontuou.

“Resgate do meu nome”

Em sua fala, o réu disse também esperar recuperar o seu nome. “De hoje eu espero ver o resgate do meu nome. A maior e melhor expectativa que tenho hoje, que é o resgate de meu nome que construí com muita dificuldade. Tenha vossa excelência que esse processo não destruiu não apenas o nome, mas a pessoa. Muitos de nós de nossa casa. Na época eu ia fazer 40 anos, agora eu tenho 63 anos, 23 anos depois. Tenha a mais plena certeza de que são dias e noites de que a pergunta que faço a mim, é o porque, porque estou no centro do furacão a que não tenho causa? Eu não guardo rancor de ninguém. Vossa excelência está diante de alguém que não tem participação no crime”, reiterou.

O caso

Natural do Pará, o jornalista Donizetti Adalto foi espancado e morto a tiros na madrugada do dia 19 de setembro de 1998, na Avenida Marechal Castelo Branco, no bairro Primavera, na zona Norte de Teresina.

No período, ele era candidato a deputado federal pelo PPS. O ex-vereador Djalma Filho estava no carro com a vítima e, de acordo com a denúncia do Ministério Público, teria sido o mandante do crime.

Meio Norte

 

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